São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Pesque-pague compra todo peixe de São Paulo

CARMEN BARCELLOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesque-pague compra todo peixe de SP
Os pesque-pague tornaram-se o principal mercado para os criadores de peixe em cativeiro do Estado de São Paulo.
O pesque-pague é um local onde o pescador paga a entrada e também a quantidade de peixe que retira da água.
Atualmente, existem mais de 15 pesque-pague na região da Grande São Paulo, segundo a Abracoa (Associação Brasileira dos Criadores de Organismos Aquáticos).
No Estado, a quantidade de pesqueiros é de aproximadamente 180, estima a Abracoa.
A proliferação desta atividade de lazer levou os criadores a mudarem o destino dos peixes que produzem, trocando os supermercados e peixarias pelos pesqueiros.
"Cerca de 99% do peixe produzido em cativeiro em São Paulo é adquirido por pesqueiros", diz Milton Zveibil, 37, vice-presidente da Abracoa e dono do pesque-pague Vida Boa.
A venda para pesque-pague é atrativa. São os clientes que procuram os criadores e se responsabilizam pelo transporte dos peixes.
"Até há um ano, 95% da nossa produção anual de 150 toneladas era vendida a supermercados e peixarias. Hoje todo esse volume vai para pesqueiros", conta Max Lucas, 37, dono da Aquicultura Moana, no Vale do Ribeira.
Em Orlândia, toda a produção anual de 150 toneladas de peixes da Cooperativa Carol também é destinada a pesque-pague.
"Com a venda em lotes fechados conseguimos o mesmo preço do pacu para outros peixes menos procurados", afirma Marcelo Toledo, 32, coordenador do setor de aquicultura da Carol.
Segundo ele, o preço médio de produção de um quilo varia de R$ 0,80 a R$ 1,00. Na venda, alcançam até R$ 3,00.
A oferta de peixes vivos no Estado, no entanto, está muito aquém da demanda, elevando os preços para os pesqueiros.
"Existe hoje um verdadeiro leilão de peixes. É absurdo o preço de R$ 3,80 cobrado pelos criadores pelo quilo do pacu, quando o custo de produção é de R$ 2,00", diz Milton Zveibil.
Ele avalia que para suprir o mercado é necessário dobrar o número de produtores no Estado, estimados em 50 atualmente.
Além dos novos pesqueiros que surgem, os já estabelecidos ampliam suas atividades.
Edgard Von Rohden, 43, dono da Aquicultura Tecnofish há 22 anos e de um pesque-pague em Itapecerica da Serra há oito anos, acaba de abrir outro em Avaré (SP).
Ele aproveita para faturar com sua experiência, elaborando projetos de pisciculturas e pesqueiros.
"Toda semana recebo pelo menos três consultas de interessados neste tipo de negócio", revela.
Paulo Matsumura, 42, que trocou a plantação de chuchus pelos peixes é outro que se prepara para ampliar seu pesqueiro.
Ele acaba de construir um lago de 20 mil m2 com capacidade para 20 toneladas de peixes, que lhe custou R$ 200 mil.
Matsumura entrou no negócio há menos de dois anos, aproveitando os três lagos que existiam em sua propriedade em Parelheiros (bairro da zona sul de São Paulo).
Na última semana, ele conta que teve que elevar o preço/quilo do pacu no pesque-pague de R$ 3,50 para R$ 4,00, devido aos aumentos praticados pelos criadores.
Vizinhos de Matsumura, Luiz Carlos Santos, 37, e Milton Kawasaki, 36, donos do pesqueiro Kawasaki, planejam para este ano a construção de mais um tanque de 20 mil 2.
Eles abriram o pesque-pague em maio do ano passado, utilizando um lago que existia na propriedade e investiram R$ 150 mil na construção de um segundo.
Milton Zveibil do Vida Boa, dono de um tanque de 20 mil m2, pretende construir outro de 62 mil m2 no próximo ano.
Max Lucas, da Moana Aquicultura, acredita que os pesqueiros que sobreviverem a esse "boom" sofrerão uma estratificação, dividindo-se em mais luxuosos e populares.
Para Mauro Nakata, 41, dono do pesque-pague Pantanosso, em Mairinque, a atividade está contribuindo para o desenvolvimento da piscicultura no Estado.
"Os criadores estão aumentando a produtividade, com o uso, por exemplo, de aeradores, que melhoram a oxigenação da água e permitem a sobrevivência do dobro do número de peixes num mesmo espaço", afirma.

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