São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Carro importado deverá pagar 35% de imposto

CARLOS ALBERTO SARDENBERG; LUCAS FIGUEIREDO
DA REPORTAGEM LOCAL

LUCAS FIGUEIREDO
O governo quer aumentar de 20% para 35% a alíquota do II (Imposto de Importação) sobre carros.
A medida tem como objetivo limitar a importação dos veículos –que explodiu nos últimos meses– e diminuir as pressões sobre a balança comercial, que apresentou déficits consecutivos em novembro e dezembro de 94.
A elevação das alíquotas será decidida no próximo dia 6, quando a Câmara Setorial Automotiva do MICT (Ministério da Indústria e Comércio) estará reunida pela primeira vez, neste ano.
Esta câmara é formada por representantes do governo, empresários e trabalhadores.
"O governo está estudando formas de aumentar os níveis de investimento no setor automotivo, buscando o aumento da produção", disse ontem à Folha o secretário de Política Industrial do MICT, Antônio Sérgio Martins.
Para o MICT, o aumento das alíquotas de importação dos veículos teria repercussão direta sobre os investimentos do setor automobilístico.
Isto porque diminuiria a demanda por modelos importados, aumentando, consequentemente, a procura pelos veículos nacionais.
A previsão do governo é que a importação de veículos chegue a 450 mil unidades este ano, caso a alíquota seja mantida em 20%. No ano passado, entraram no país cerca de 200 mil carros estrangeiros.
A Folha apurou que o governo deve incluir os veículos importados na lista de exceções à TEC (Tarifa Externa Comum) –que define as alíquotas dos produtos importados que entram nos países do Mercosul.
O governo decidiu tomar providências não tanto por causa das importações feitas no ano passado, mas por causa das previsões para este ano.
O aumento muito forte das importações teria como consequência o fechamento de fábricas e a perda de empregos.
Outro fator de inquietação foi o peso dos automóveis na conta de importações, especialmente neste momento em que o governo quer evitar déficit no comércio externo.
Além de aumentar o II, a alternativa preferida, há a hipótese de se estabelecerem quotas, como faz a Argentina. Mas a equipe econômica não aprecia esse tipo de controle burocrático.
O núcleo original da equipe econômica do real, formado por Pedro Malan, Pérsio Arida, Edmar Bacha e Gustavo Franco, nunca gostou de aplicar controles administrativos ou políticos sobre o mercado. Achava que isso não funciona.
A idéia básica da equipe original sempre foi abrir o mercado e deixar que ele funcionasse, impondo a competição.
Esse era o caminho para impedir elevação de preços e forçar a indústria nacional a buscar maior competitividade. Por isso mesmo, a equipe econômica original não estimulou as Câmaras Setoriais. Ao contrário, colocou-as na geladeira.
A crise do México certamente contribuiu para a mudança de política. Especialmente porque deu força aos membros que se agregaram à equipe econômica, como José Serra, ministro do Planejamento, e Dorothea Werneck, ministra da Indústria e Comércio, e entusiasta da Câmara Setorial.

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