São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Ano novo da China começa hoje sem Deng

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China começa hoje um ano novo, de acordo com seu calendário lunar. As festividades de ontem foram marcadas pela ausência do líder comunista Deng Xiaoping, 90, da TV e as previsões sobre o que o zodíaco chinês reservaria para este que é o Ano do Porco.
Deng, que deslanchou as reformas pró-capitalismo em 1978, enfrenta sérios problemas de saúde.
Fala-se que sofreria de mal de Parkinson. A China guarda a sete chaves informações precisas sobre o estado do líder, que, nos últimos cinco anos, embora não ocupasse nenhum cargo oficial, continuava decidindo os rumos do país.
Desde 1988, Deng cultivava a tradição de aparecer diante das câmeras de televisão para desejar um feliz ano novo aos chineses.
Em fevereiro último foi sua última aparição em público, justamente nas festas de fim de ano.
O presidente chinês, Jiang Zemin, visitou Deng no sábado, de acordo com a agência oficial de notícias Xinhua. Jiang teria recebido de seu mentor político a tarefa de "desejar em nome de Deng um feliz ano novo aos chineses".
As reformas apagaram dogmas comunistas e fizeram algumas superstições voltarem com força para preencher o vácuo ideológico.
Pequim testemunhou ontem discussões sobre um ano novo que carrega características semelhantes a 1976, quando morreu o dirigente comunista Mao Tse-tung e um terremoto matou 240 mil chineses.
O ano que começa hoje tem dois meses de agosto, de acordo com o calendário lunar. Seria o mesmo mau presságio que houve em 1976, ano chamado de "trágico" pelos chineses.
Mas também existem os supersticiosos que falam em um ano auspicioso. Entre os 12 animais do zodíaco chinês, o porco se destaca por seu caráter "bondoso e contente".
Pulando da superstição para a ciência, as previsões apontam para o ano no qual a China deve perder Deng Xiaoping. Sua equipe médica, de acordo com a imprensa de Hong Kong, avalia que o líder chinês deve sobreviver até junho, mas que dificilmente reuniria condições para chegar até agosto.
A nuvem de instabilidade paira sobre o período pós-Deng. A sucessão já foi acertada.
O poder se transferiria para as mãos do presidente Jiang Zemin, mas existe a possibilidade de facções contrárias a ele deslancharem uma luta palaciana depois da morte de Deng Xiaoping.
Enquanto a disputa política continua adormecida, os chineses festejam o ano novo. Usam fogos de artifício, programa de TV no canal central, organizam fartos jantares, trocas de presentes e feriados.
O país praticamente deve parar até a próxima segunda-feira, na principal comemoração do calendário da China.

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