São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
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Suspeitos de sempre

ANTÔNIO SÉRGIO ROCHA

Mês passado, na conclusão de seu artigo sobre o livro ``A Morte do Homem Econômico" (Ed. Nobel), o prof. Paul Singer lamentava que a tradução ``deixe a desejar nos assuntos financeiros" e ``não esclareça siglas e termos americanos", recomendando uma revisão do trabalho. Quem lê a resenha tem a impressão que, mais uma vez, tradutor e editora maltrataram a edição em português. É um equívoco que merece esclarecimentos.
Em primeiro lugar, curioso que o resenhista faça restrição à tradução e, ao mesmo tempo, use em seu artigo dez citações da obra, sem lhes fazer um único reparo. Quanto aos termos americanos, há 91 ``notas do tradutor" no livro: aproximadamente seis por capítulo, ou uma a cada três páginas. É duvidoso que se encontrem tais médias em outras traduções.
Esse cuidado decorre da própria natureza da obra, que cobre vasta gama de assuntos. O esforço de esclarecimento ao leitor brasileiro só se viabilizou porque, além da pesquisa de tradução, pude aproveitar um estágio acadêmico na Universidade de Michigan. Graças ao convívio com professores e colegas americanos, foi possível identificar as dezenas de siglas e expressões que há no texto. Assim, as notas de rodapé informam desde formulários de imposto de renda, modalidade de seguros e contas remuneradas, até decisões da Suprema Corte e jogadas de beisebol -além, é claro, do ``economês", recolhido junto a dicionários especializados.
Há, evidentemente, lugar para aperfeiçoamento, como de resto em qualquer tradução. Mas a crítica sumária do resenhista é demasiado parcial: desdenha a contribuição do tradutor e não faz justiça nem mesmo ao apuro gráfico da edição brasileira. Reclamar dos faltosos de sempre não é um hábito fácil de deixar.
Enfim, a obra está disponível nas livrarias e bibliotecas públicas. Quem se dispuser a consultá-la, aprenderá sobre economia e, eventualmente, poderá tirar a limpo de quem foi o descuido, se do tradutor ou do resenhista.

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