São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
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Rua é ``reinado público", afirma arquiteto

VICTOR AGOSTINHO
DO ENVIADO ESPECIAL

Como deve ser uma boa rua? Para responder a essa pergunta Allan Jacobs, arquiteto e professor da Universidade da Califórnia, que considera as ruas como o ``reinado do público", levou duas horas.
Segundo Jacobs, o mundo está vivendo a era das cidades e as ruas, nesse contexto, passam a ter um papel muito maior do que apenas permitir acessos.
O arquiteto afirma que uma boa rua deve servir como palco de reuniões sociais. Jacobs argumenta que todas as mudanças do mundo nos últimos anos aconteceram nas ruas -revoluções, movimentos sociais, passeatas etc- e que há mais espaço nas ruas do que nos parques de qualquer cidade.
A rua para Jacobs deve ser confortável, ou seja, ter sombras quando o dia está quente e sol quando faz frio. Deve ainda ser segura e permitir que as pessoas possam passear a pé. ``Uma boa rua fica na memória como uma imagem positiva."
Na opinião do professor, as melhores ruas do mundo estão em Barcelona (Espanha). No traçado das ruas de Barcelona a população tem o sentimento de definição, com árvores e prédios estipulando o desenho da rua. O mesmo aconteceria, de acordo com Jacobs, com as rua de Roma (Itália).
Mas uma rua, acredita o arquiteto, não deve ser vazia de casas. ``Para ela ficar agradável, deve ser preenchida com edificações. Até a Disneyworld sabe disso e mantém, ao lado dos prédios de verdade, fachadas imitando edifícios para preencher todo o espaço da rua. As ruas são falsas, mas passam um sentimento de bem-estar."
Segundo Jacobs, as quatro melhores cidades do mundo são: Roma, São Francisco, Paris e Curitiba. ``As ruas de Roma são maravilhosas, Paris é a mais elegante, São Francisco é uma delícia para morar e Curitiba me impressiona pela vontade que eles têm de sempre buscarem fazer coisas melhores." São Paulo, diz Jacobs, tem ruas ``adoráveis e terríveis".

Descentralização
A descentralização das decisões urbanas foi defendida pelo ex-prefeito de Caracas (Venezuela), Aristóbulo Istúriz, no último dia da reunião. Ele diz que as decisões e recursos de obras urbanas devem ser repassadas para estruturas mais localizadas, formadas nos bairros.
Em Caracas, onde 70% da cidade não tem um urbanismo controlado, o ex-prefeito criou as ``Juntas Parroquiales", ou seja, organismos que permitem que a comunidade afetada pelas obras administrem as verbas e decidam prioridades para os bairros.
Istúriz afirma que, com essa medida, conseguiu diminuir em cerca de 60% o custo das obras.
Ele definiu Caracas como ``um Rio em miniatura", ao afirmar que os problemas de sua cidade são muito parecidos com os do Rio. Hoje, 80% do urbanismo carioca não está controlado.
Moram na região metropolitana de Caracas atualmente cerca de 4 milhões de habitantes. Perto de 40% dessa população vive em estado de pobreza.
Como vantagens da descentralização, Istúriz citou a geração de empregos, além do barateamento que resultaria de uma operação controlada por moradores. A tese será apresentada em Istambul no ano que vem.
(VA)

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