São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
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Meninos de rua de Santos fazem programa de rádio

MARCUS FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Cinco ex-crianças de rua que moram em abrigos da prefeitura se transformam uma vez por semana em locutores e repórteres em Santos (72 km a sudeste de São Paulo, no litoral do Estado).
O grupo é responsável pelo programa ``Rádio Muleke", que vai ao ar todas as segundas-feiras, das 20h às 21h na rádio Cacique AM (1.510 khz). O horário é alugado pela prefeitura.
Com uma trilha sonora à base de rap, samba e pagode, os ``radialistas" discutem com os ouvintes e entrevistados assuntos de interesse dos adolescentes, com ênfase para a realidade do menor abandonado.
``Hoje, menino de rua é sinônimo de roubo e droga. Na rádio, nós queremos provar que não é bem assim. Nós também temos talento", diz Carla Soares Barbosa, 16 anos, três passados na rua.
Segundo o assessor da Secretaria Municipal de Ação Comunitária Renato Di Renzo, idealizador do projeto, a ``Rádio Muleke" é uma terapia. ``Menino de rua vive o hoje porque não tem crença no futuro. A idéia é devolver essa esperança, para que dessa forma eles passem a se gostar, a gostar do momento que estão vivendo", diz.
Na rádio, a participação dos adolescentes é condicionada ao desempenho escolar. Faltar às aulas vale um ``cartão amarelo", que suspende o ``radialista" por um programa. Abandonar a escola é ``cartão vermelho".
Vagner Alves, 16, o ``Vlad" para os ouvintes, ficou afastado por cartão amarelo durante um programa. ``Não falto mais. A rádio para mim é um sonho."
A ``Rádio Muleke" foi ao ar após dois meses de produção. Os adolescentes opinaram na criação dos quadros do programa, na seleção musical -sertanejo é proibido- e nos temas abordados.
O programa é dividido em cinco blocos: ``Pergunta do Dia", ``Crônica", ``Você Sabia?", ``Dicas Culturais" e uma entrevista.
No primeiro programa, que foi ao ar no último dia 11, a ``Rádio Muleke" entrevistou a curadora da infância e juventude de Santos, Paula Trindade. A pergunta do dia para os ouvintes era sobre a violência nas torcidas organizadas dos times de futebol.
Andando pelas ruas, o repórter ``Rodapé" -Washington Luiz de Oliveira, 16- trazia opiniões sobre o problema.
Aparecido Gilmar da Silva, 15, dá as dicas culturais da semana. ``Tenho voz de radialista", diz ele, que com 10 anos fugiu da casa dos tios para morar na rua.
Carla Barbosa lê a crônica. O quadro ``Você Sabia?" apresenta trechos dos direitos universais da criança.

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