São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
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Produtos vão custar 20% menos, diz Staub

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Neste Natal, os consumidores vão comprar eletroeletrônicos 20% mais baratos, em dólar, do que no ano passado.
A previsão é do empresário Eugênio Staub, diretor-presidente da Gradiente Eletrônica.
Ele diz que a indústria e o comércio vão continuar fazendo promoções de preços e prazos para manter o volume de vendas.
``A falta de dinheiro na praça faz com que a indústria seja mais agressiva nas promoções", diz.
Criticando a ``incompetência" na formulação de uma política industrial para o país, Staub se diz ``decepcionado com o governo dos tucanos".
Staub espera que o governo corrija o ``erro" que foi a proibição de consórcios para eletrodomésticos, com a volta desse tipo de venda com um prazo de 36 meses.
A seguir, trechos da entrevista.

Folha - O setor eletroeletrônico repetiu em setembro o recorde de vendas de agosto?
Eugênio Staub - Não. Setembro foi ruim. O comércio voltou ao hábito de concentrar suas compras nos dois últimos dias do mês.
Cerca de 50% das vendas esperadas para o mês tinham sido feitos até o dia 25 de setembro, um resultado horroroso, mas a expectativa é de fechar o mês perto de 90% das vendas previstas.
Folha - Qual é a avaliação que o sr. faz das recentes medidas do Conselho Monetário Nacional para aliviar o crédito?
Staub - São medidas tímidas, mas estão na direção certa.
Folha - O ministro Pedro Malan (Fazenda) diz que os consórcios para eletrodomésticos devem voltar.
Staub - A eliminação do consórcio para eletroeletrônicos foi um erro que o governo promete agora consertar. Foi um erro porque o consórcio cumpre uma função social, porque é uma venda de mão-de-obra intensiva. Havia 20 mil pessoas vendendo consórcio de eletroeletrônico. Essas pessoas perderam o emprego. Também tem uma finalidade social porque é a única chance de um cidadão humilde que está na base da pirâmide social ter seu eletrodoméstico.
O ideal seria consórcio de 36 meses ou de 25 meses, mas menos de 12 meses é curto.
Folha - Como vai ser o Natal de 95?
Staub - Em volume de vendas, o Natal deve ser razoável. As vendas talvez sejam fracas este mês mas deve haver uma recuperação. O Natal não será, porém, como o do ano passado.
Folha - Por quê?
Staub - Porque o fator sazonal, as compras de Natal, está diferente hoje. Antes, no segundo semestre, tinha o impacto do 13º salário, mas este ano muitas empresas anteciparam o 13º salário porque os funcionários estavam apertados.
Além disso, o impacto dos dissídios de outubro não será o mesmo este ano porque os reajustes serão menores.
Folha - Vai haver muita promoção?
Staub - Sim, porque as vendas estão sendo sustentadas pelas promoções. O consumidor que esperar até o Natal vai comprar eletroeletrônicos 20% mais baratos, em dólar, do que no ano passado. Se o cliente pagou US$ 400, este ano vai pagar US$ 320. A falta de dinheiro na praça faz com que a indústria seja mais agressiva.
Folha - Para competir com as importações?
Staub - A elevação da taxa para 70% exacerbou o contrabando, problema seríssimo do setor, em vez de promover investimentos. A Gradiente cancelou investimentos. Para mim, 70% é muito, mas 20% é pouco. O equilíbrio é 35%. Com 35%, dá para fazer investimentos.
Mas o problema é que o governo é absolutamente incompetente na questão de política industrial.
Folha - Por quê?
Staub - Porque está fazendo uma política para as montadoras forçado pelas circunstâncias do desequilíbrio da balança comercial. Todos os demais setores estão desorganizados. Estou muito decepcionado com o governo dos tucanos, porque esperava um comportamento diferente.
Folha - Faltam diretrizes?
Staub - Diretrizes e interlocutores. A Eletros (Associação dos Produtores de Eletroeletrônicos) está preparada para discutir uma política industrial para o setor e não tem interlocutor no governo.
Há uma divisão clara sobre diretrizes de curto, médio e longo prazos. E falta um fórum para discutir o assunto, que tenha poder não só para dialogar, mas para fazer.
Hoje, a indústria não sabe quem é o ministro que pode fazer política industrial no país. Malan? Serra? Dorothea? É um problema de organograma e político.

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