São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vendas de automóveis a álcool despencam 76%

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O carro a álcool é um produto ameaçado de extinção. Só nos primeiros oito meses deste ano as vendas caíram 76,62% frente ao mesmo período de 94 -de 98.387 unidades para 23.111.
O carro a álcool representa apenas 3,6% do volume total das vendas de carros produzidos no país. Em 94, tinha 12,2% do mercado.
Já representou, em 85, 96% do total de automóveis e comerciais leves vendidos, diz a Anfavea (que representa as montadoras).
Para as montadoras, a explicação para a queda é simples: o consumidor prefere o carro a gasolina.
``É o mercado que define o que deve ser produzido", explica Cledorvino Belini, diretor da Fiat Automóveis. ``A produção de carros a álcool da Fiat já chegou a 95% do total. Hoje está em torno de 5% porque essa é a demanda."
Os produtores de álcool combustível não concordam. E apontam pesquisa feita pelo Instituto Gallup para a AIAA (Associação das Indústrias de Açúcar e do Álcool do Estado de São Paulo).
Foram entrevistadas 1.084 pessoas, das quais 35,4% tinham carro a álcool e 64,5%, a gasolina.
``Se houvesse oferta, o número de consumidores seria maior", diz José Pilon, presidente da AIAA.
Para Sérgio Reze, presidente da Fenabrave (que representa os distribuidores de veículos), o colapso no fornecimento do álcool, no início da década de 90, foi fator importante na queda das vendas. ``O dono do carro ficou com medo de ficar sem combustível", diz.
Luiz Muraca, gerente de marketing e vendas da Volkswagen, concorda. ``Há cerca de quatro anos, as filas nos postos prejudicaram a imagem do produto."
Em 90 e 91, segundo dados dos produtores, o déficit na oferta do combustível foi de 100 milhões de litros. ``O desabastecimento foi causado por falta de definição da política de preços", diz Pilon.
Hoje a indústria produz 12,6 bilhões de litros de álcool combustível para atender uma frota de 4,5 milhões de veículos. Parte da produção é adicionada à gasolina.
A capacidade total de produção é de 16 bilhões de litros. Os produtores afirmam que garantem o abastecimento, ``desde que o governo elimine a defasagem no preço pago ao produtor". Eles calculam que durante o Plano Real a defasagem seja de 15%.
Os produtores querem que o total de carros a álcool volte a representar entre 20% e 30% do mercado. Esse percentual serviria, segundo eles, para renovar a atual frota e viabilizar investimentos.
O carro ``popular", para as indústrias de açúcar e álcool, também foi responsável pelo desestímulo ao carro a álcool.
O ``popular" representa quase 60% do total de carros vendidos no país. E, com exceção de parte da produção do Fusca e da Kombi, todos são movidos a gasolina.
``A fabricação de motores 1.0 a álcool exigia grande investimento, que as montadoras não estavam dispostas a fazer", diz Pilon.
``Quando surgiu o carro `popular', o carro a álcool já estava em baixa", diz Muraca. Ele diz que a prioridade da Volks é desenvolver motores a gasolina. Belini, da Fiat, diz que não há planos para fabricar motor 1.0 a álcool.
Embora veja o álcool como ``alternativa energética que não deve ser descartada", Muraca teme que a participação do carro álcool na produção continue em queda.

Texto Anterior: A lógica do desemprego
Próximo Texto: Volks vai precisar importar peças para operar nova fábrica de motores
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.