São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
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Brasileiro de 2050 terá final no Pará

E o jogo pode nem sequer ocorrer
MARCELO FROMER e NANDO REIS

MARCELO FROMER; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Algumas coisas incríveis têm acontecido no país do futebol. Nesse embalo, imaginamos um clássico paulista em 2050.
Justamente São Paulo, que tem a tradição de concentrar os melhores times, com a grandeza da capital e a força do interior, e que neste Brasileiro está decepcionando, principalmente pela ausência de público.
Enquanto Flamengo e Botafogo, em Fortaleza, jogavam para 75 mil pessoas, o Santos, na Vila, batia o União para menos de 3.000.
Nesse quadro assustador que se alastra pelo país, conseguimos bater outro recorde negativo: um jogo em Brasília simplesmente não teve pagantes.
Mas vamos ao jogo. É final de campeonato e não é todo dia, mas quase todo dia, que se enfrentam dois grandes rivais numa decisão histórica.
É dia 30 de setembro de 2050 e, depois de muita confusão, foi decidido o local do jogo. Em função de o Pacaembu ter sido comprado por Edir Macedo, de o Morumbi estar destinado apenas a shows de rock e do fechamento do Canindé e do Parque Antarctica, o estádio para a final foi decidido minutos antes do jogo. Resultado: as equipes atrasaram, já que o jogo acabou sendo marcado para Belém do Pará e o vôo atrasou.
Como não houve acordo para transmissão pela TV, por causa de uma briga generalizada envolvendo 50 TVs a cabo e Bandeirantes, Globo, Manchete e Record, apenas uma emissora de rádio pirata local cobriu o evento.
O estado do gramado não era tão ruim, até porque aquilo não se podia chamar de gramado.
Indignado, o jovem repórter de campo começou a disparar acusações a dirigentes, indo desde o presidente da Fifa, Havelange Júnior, até o da CBF, Ricardo Teixeira Neto.
Logo, porém, foi recolhido por um policial, que o levou para um interrogatório. Coisas do futebol...
Os poucos torcedores que foram ver o jogo não puderam entrar. Eles se envolveram em uma briga fora do estádio e acabaram morrendo algumas horas depois.
Mas tudo bem, minha gente, o importante é bola na rede e defunto no caixão. Entram, então, as duas equipes no campo, com os jogadores de mãos dadas.
Eles vão até o meio-campo, levantam os braços e cumprimentam ninguém, pois não há uma alma viva.
Depois de uma rápida reunião, decidem, por unanimidade, que não há clima para uma final e seguem para o mercado Ver o Peso, no centro de Belém, que ainda resistia aos castigos do tempo e da devastação humana. Chovia...

Cartas para esta coluna podem ser enviadas para o caderno de Esporte, al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, São Paulo, SP, CEP 01290-900

Marcelo Fromer e Nando Reis são músicos e integrantes da banda Titãs

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