São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
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Comitê prepara centenário no Japão

Primeira projeção foi em Osaka

AMIR LABAKI
EM TÓQUIO

``O cinema não é visto como uma riqueza cultural. O governo hoje nada faz por ele. Temos que organizar e financiar tudo de forma independente". Soa familiar? Quem fala é o professor Shiguéhiko Hasumi, da Universidade de Tóquio e presidente do comitê para o centenário do cinema.
Entrevistei Hasumi-san no início da tarde da última quinta-feira, na sala de reunião do 8º Festival Internacional de Cinema de Tóquio.
``Comparado com o francês, nosso comitê é muito pequeno e pobre", reconhece logo. ``Decidimos criá-lo há dois anos: eu, o crítico Sadao Yamane, o diretor Yoshishige Yoshida, um representante da Fundação Japão e outro do Japan Film Center. É um comitê independente. Mesmo os representantes das instituições fazem parte dela num engajamento privado". As celebrações do centenário do cinema no Japão não contam com suporte governamental. O Japão oficial esnoba a arte que mais projetou o país neste século.
O que tem sido possível fazer? ``Nosso primeiro evento, ou pré-evento, aconteceu em dezembro do ano passado, reunindo sete filmes mudos, entre os quais um filme pouco conhecido, `Eu Matei' (J'Ai Tué, 1924) de Roger Lion, e `A Fraude' (The Cheat, 1915) de Cecil B. DeMille.", diz. ``O primeiro ator japonês a fazer carreira em Hollywood, Seshu Hayakawa, participa de ambos. Neste ano somos responsáveis pela mostra `Clássicos do Cinema Japonês' no festival de Tóquio." Ainda em 1995, acontecem mostras dedicadas aos irmãos Lumiére e a Georges Méliès. Em 1996, é a vez de Renoir e de Gaumont.
Hasumi reconhece ainda estar indefinida a programação que vai homenagear, em fevereiro de 1997, a chegada do cinema à terra do Sol Nascente. ``Em Osaka, quase no mesmo lugar (da primeira sessão), há hoje uma sala de cinema. Queremos organizar algo lá. Uma possibilidade é levantar filmes japoneses sem cópias no Japão, talvez em Moscou, Pequim ou até mesmo em São Paulo.
A segunda idéia é preparar algo com as grandes coleções de filmes privados dos membros da `yakuza' (a máfia japonesa). Sabemos que na ilha de Shikoku há uma interessante coleção de filmes de Sadao Yamanaka (`Humanidade, Balões de Papel', 1936), mas o dono agora está fugindo da polícia."
Peço-lhe que explique por que a primeira projeção não se deu em Tóquio, já então capital, mas sim em Osaka. Hasumi saca uma boa história: ``Um amigo íntimo de Auguste Lumiére vivia em Kyoto. Era um negociante japonês chamado Katsutaro Inabata. Ele estudou em Lyon quando jovem, voltou ao Japão e abriu uma fábrica de seda em 1892. Inabata soube que Auguste inventara algo interessante e se tornou o primeiro concessionário japonês dos Lumiére. Foi a França e voltou com um operador. A primeira projeção para público aconteceu na cidade de Osaka". Não tenha dúvida: isso ainda dá filme.

O crítico AMIR LABAKI viaja a convite da Fundação Japão

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