São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
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Ozu vence pesquisa sobre cinema japonês

AMIR LABAKI
EM TÓQUIO

Yasujiro Ozu (1903-1963), o sereno poeta do cotidiano familiar nipônico, é o cineasta mais citado numa pesquisa sobre os filmes japoneses preferidos realizada conjuntamente pelo 8º Festival de Tóquio e pelo Comitê de Celebração do Centenário.
Os filmes de Ozu alcançaram 36 votos num universo de 131 críticos e cineastas do mundo inteiro. Dentre os que votaram em suas obras estão os cineastas Bernardo Bertolucci, Victor Erice, Wim Wenders e Jean-Jacques Beineix.
Uma pequena seleção dos filmes escolhidos foi exibida numa sessão matinal diária durante o festival. O ``ranking" não foi respeitado. ``Escolhemos filmes que não eram exibidos há muito tempo", explicou à Folha Shiguéniko Hasumi, presidente da comissão do centenário (leia texto ao lado).
``Era Uma Vez em Tóquio" (Tokyo Monogatari, 1953), drama sobre o conflito de gerações no Japão do pós-guerra, foi eleito o filme japonês predileto, com 14 votos. Logo atrás, ficou ``Rashomon" (1950), de Akira Kurosawa.
O resultado coincide com o levantamento feito pela Folha em abril, que posicionou ambos os filmes entre os dez maiores da história do cinema. A pesquisa japonesa de agora apenas inverte as posições, colocando o filme de Ozu à frente do de Akira Kurosawa.
Com 24 citações, Kurosawa, 85, ocupa a segunda posição entre os diretores japoneses preferidos internacionalmente. Peter Greenaway votou em ``Trono Manchado de Sangue" por sua ``representação da selvageria humana".
Paul Verhoeven (``Instinto Selvagem") descreveu ``Rashomon" como ``um dos cinco melhores filmes já feitos e um dos poucos que provam que cinema é arte". Já Spike Lee elegeu Kurosawa, mas não apontou nenhum filme particular: ``Todos!", escreveu o diretor de ``Faça a Coisa Certa".
Completando o trio básico do cinema clássico japonês, logo atrás de Kurosawa, com 22 referências, vem Kenji Mizoguchi (1898-1956). Seus principais admiradores foram críticos como os franceses Michel Ciment e Jean Douchet e o cineasta Eric Rohmer.
Também nele votou um dos dois brasileiros que participaram do levantamento: Fabiano Canosa, programador licenciado dos filmes exibidos pelo Public Theater de Nova York, que considera ``A Princesa Yang Kwei-fei" (1955) ``o mais belo filme já feito".
Confirmando a revalorização de seus dramas urbanos, Mikio Naruse (1905-1969) foi citado por 11 especialistas, ficando em quarto lugar. Ao contrário da concentração das preferências sobre alguns poucos títulos dos outros cineastas, vários de seus filmes foram lembrados, como ``Luz" (1952), ``Nuvens Flutuantes" (1955) e ``Quando Uma Mulher Sobe a Escada" (1960).
Nagisa Oshima (``O Império dos Sentidos") foi o cineasta em atividade mais bem posicionado, com dez votos. Oshima parece cumprir hoje na cena cultural japonesa papel similar ao que Glauber Rocha exercitou no Brasil após seu auto-exílio.
Tendo em seu currículo alguns dos pontos altos da ``nouvelle vague" japonesa, Oshima é hoje mais importante como polemista do que como cineasta.
O outro voto brasileiro, do cineasta Nelson Pereira dos Santos, foi para Oshima, mais precisamente para ``Túmulo do Sol" (1960), considerado pelo diretor de ``Vidas Secas" como ``um dos maiores filmes a romper com o tradicional e trazer o novo".
A seguir, com um menor número de citações (apenas três), Shohei Imamura (``A Balada de Narayama") destaca-se menos na pesquisa do que nas conversas que tive nos bastidores do festival. A projeção de seu ``Desejo Assassino" (1964) causou frisson.
É impressionante o respeito com que se referem a ele críticos como o japonês Tadao Sato e os brasileiros Jean-Claude Bernardet e Ismail Xavier. Aos 69 anos, Imamura é um nome em visível ascensão no cenário cinematográfico japonês.
O mais antigo filme escolhido foi ``Cruzamentos", de Teinosuke Kinugasa, rodado em 1928. O mais recente é o policial ``Sonatina", de Takeshi Kitano.
Um único filme dirigido por um cineasta não-nipônico foi lembrado: ``A Saga de Anatahan" (1953), de Josef von Sternberg, ``refração do Oriente dentro do espírito ocidental", segundo o crítico francês André S. Labarthe.

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