São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
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Inflação de classe

Sendo sociólogo o presidente da República, cabe apontar uma pressão inflacionária hoje aguda: a inflação de classe.
Quando se observam os indicadores de preços de serviços, comparados com os preços em outros setores, essa inflação torna-se visível. No restaurante ou na escola particular, há uma inflação que não é a mesma daquela dos ônibus.
Os economistas sublinham que os serviços, sendo bens ``non-tradeables" (que não podem ser importados), têm assim um poder de fixar preços sem concorrência.
Essa explicação é lógica, mas, como muitas explicações econômicas, incompleta. Pois, se os formadores de preços de serviços de fato contam com um poder de mercado diferenciado, também encontram do outro lado do balcão uma freguesia disposta a pagar preços de Paris por um serviço de Bombaim.
Basta portanto subir bem o preço e vender para o estreito mercado dos que recebem salários de Paris ou Nova York, e o custo fixo é coberto, talvez até mais um pouco.
Essa inflação é portanto uma inflação típica de classe, pois ela é possível numa economia onde uma larga parcela da sociedade ainda é excluída dos mercados. Vale portanto vender caro e para poucos.
Essa inflação está nos índices: a Fipe, o IBGE ou a FGV-RJ capturam a inflação da mensalidade escolar, da alimentação fora do domicílio ou do aluguel.
Esses setores só deixarão de pressionar os índices se houver avanços na distribuição de renda da sociedade brasileira.

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