São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
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Patrão neles

VALDO CRUZ

BRASÍLIA-Uma perguntinha rápida: se você tivesse poderes para aumentar o seu salário, o que faria? Em tempo de dinheiro curto, com certeza a resposta é que você aumentaria.
Só que o trabalhador brasileiro, aquele que tem um patrão, não dispõe desse poder ilimitado. Pode negociar, pressionar, fazer greve por um aumento salarial, mas nunca decidir quanto vai receber no final do mês.
Mesmo o empresário não tem essa faculdade. Hoje, se ele aumenta exageradamente os seus preços, o consumidor corre para a marca mais barata.
Mas algumas pessoas no Brasil se sentem no direito de fazer isso. Pior, têm poder para tal, para tomar decisões em causa própria.
Foi o que ocorreu em Brasília. Uma cena que imaginávamos varrida do país voltou a se repetir. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal se autoconcedeu um reajuste de 26,06% por conta do Plano Bresser. E olhe que o Supremo Tribunal Federal, a última instância do Judiciário, já tomou várias decisões contra esse aumento a título de perdas provocadas pelo Plano Bresser.
Longe aqui de se defender o que esse plano fez com o trabalhador brasileiro. Mas é difícil aceitar que um tribunal possa decidir o que os seus juízes e funcionários vão receber de salário no final do mês.
Como os juízes do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, outras categorias privilegiadas no país têm esse poder mágico. Os deputados e senadores são um exemplo.
Atualmente, as presidências da Câmara e do Senado estão sendo pressionadas nos bastidores para que aceitem manobras destinadas a engordar o contracheque dos miseráveis congressistas. Por enquanto, estão resistindo.
O mais engraçado -ou trágico- dessa história toda é que Judiciário e Legislativo vivem basicamente das verbas do governo federal. Traduzindo: do dinheiro do contribuinte, daquele brasileiro que não pode definir por conta própria o valor do seu rendimento.
Em última instância, o patrão dos juízes e parlamentares é o contribuinte brasileiro. Que tal aprovar uma lei obrigando estes senhores a negociar aumentos salariais diretamente com os seus verdadeiros chefes?
Como contribuição, vai aqui uma sugestão de slogan em favor de um projeto como esse: ``Patrão neles".

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