São Paulo, terça-feira, 3 de outubro de 1995
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Sindicância do HC conclui que falha humana matou Florestan

DA REPORTAGEM LOCAL

A comissão de sindicância instaurada pelo Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo) para apurar a morte do sociólogo Florestan Fernandes concluiu que ela foi causada por falha humana, responsável por ``grave erro técnico no processo de diálise (purificação do sangue)".
Presidida por Yassuhiko Okay, professor titular do Departamento de Pediatria da USP, a comissão verificou outras irregularidades: a declaração de óbito não correspondia à realidade do óbito, e houve, também, omissão de informação sobre a ocorrência que levou à morte de Florestan Fernandes.
Por esses motivos, a comissão sugeriu a abertura de processo administrativo disciplinar contra os médicos Guilherme de Paula Pinto Schettino, Pedro Caruso e William Abrão Saad Júnior e a enfermeira Eloísa Aparecida Pereira.
``Houve erro grave e falso testemunho", sintetizou Okay, que entregou o relatório da comissão de sindicância ao superintendente do HC, Alberto Kanamura.
Florestan Fernandes morreu no dia 10 de agosto último, seis dias depois de ter sofrido um transplante de fígado realizado pelo cirurgião Silvano Raia.

Hemodiálise
O sociólogo morreu durante uma hemodiálise. Houve entrada de ar no sistema, que provocou uma embolia gasosa (presença indevida de ar no organismo).
A enfermeira Eloísa foi responsabilizada pela comissão por ter-se ausentado da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) durante o processo de hemodiálise.
Em seu lugar, a enfermeira deixou uma auxiliar sem condições de operar o equipamento.
Os médicos Pedro Caruso e William Saad Junior assinaram o atestado de óbito dando como causa da morte "insuficiência de múltiplos órgãos", e não embolia. Eles discutiram o teor do atestado com Guilherme Schettino.
Segundo o parecer da comissão, os dois médicos omitiram as circunstâncias da morte do paciente.
O filho do sociólogo, Florestan Fernandes Júnior, afirmou que está "chocado com todo esse processo" e que pretende entrar com representação junto ao HC para saber quem foi o responsável pela recomendação do transplante.
"Meu pai era um homem muito debilitado", disse. "O próprio relatório da comissão de sindicância registra isso."
Silvano Raia disse ontem à Folha que "o transplante era a única alternativa" para Florestan Fernandes e que sua família "havia sido alertada do risco".

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