São Paulo, terça-feira, 3 de outubro de 1995
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Para a Portuguesa passar do fado ao fato

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, Inter e Flu disputam com maiores chances a vaga do Grupo B. Tá tudo muito bem, tá tudo muito certo, mas a Portuguesa ganhou dos dois líderes, jogando no Rio e jogando em Porto Alegre.
O que falta à Portuguesa é aquela regularidade para poder cantar que não é só um fado, mas também um fato.

Quando o Bebeto, depois da Copa dos EUA, disse que queria voltar para o Brasil, escrevi aqui que ele estava saindo da Espanha no melhor da festa.
Bebeto participou duramente da reconstrução do fut espanhol e, justamente na temporada em que os investimentos eram maiores, com o consequente deslocamento do interesse internacional para os torneios ibéricos, ele anunciava que abandonaria ``la barca".
(Alguns dos anjos da guarda de Bebeto têm mais juízo do que os de Romário).
Pois bem, o Bebeto ficou. E, agora, com o Deportivo mais ofensivo, você está vendo o tamanho do estrago. Olé.

Não posso deixar de registrar dois textos, que, embora escritos fora das seções de esporte, são exemplos de sensibilidade para perceber flagrantes do futebol que servem para iluminar a vida real.
Um deles saiu ontem na Ilustrada. Trata-se de uma perspicaz reflexão de Fernando Gabeira sobre aquela defesa do Higuita, em meio a embasbacados jogadores e torcedores ingleses.
Para quem perdeu, reproduzo os dois parágrafos finais:
``No Brasil, um goleiro como Higuita não só jamais chegaria à seleção, como não seria aceito num grande clube. Tetracampeões do mundo, temos um compromisso com a eficácia e um divórcio cada vez mais profundo com a fantasia.
Nossos goleiros não convidam ao romance, mas à leitura do `Diário Oficial', e nossos projetos nacionais jamais se distanciam da máxima: o empate é um bom resultado".
O outro artigo saiu há duas semanas no caderno B, do ``Jornal do Brasil". É uma crítica -melhor dizendo, é a captação de um sentimento- do ``Canal 100", que emigrou do cinema e dos nossos sonhos para a TV Manchete, muito bem escrita por João Luiz Albuquerque. Replay:
``O `Canal 100' é do tempo da bola de couro marrom Superball G-18, que, em dia de chuva, virava uma pedra, porque não era impermeável como a capa do Humphrey Bogart.(...) A única e unânime verdade a escapar da tola discussão é a seguinte: nenhum Fla x Flu, por mais decisivo, está livre de virar uma grande pelada. Quando o tal clássico chocho passava no cinema, salvava-lhe o `Canal 100', dando um banho de bola. Sempre conseguia transformar as furadas do Onça ou os gols bisonhamente perdidos pelo Escurinho em pura poesia. A torcida babava nos saquinhos de pipoca."

Você deve ter notado, que, com a colaboração do Gabeira e do João Luiz, esta coluna ficou mais inteligente -e mais bem escrita- hoje. Ponto para o Rio.

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