São Paulo, terça-feira, 3 de outubro de 1995
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"Nem o original era tão bom"

DA REPORTAGEM LOCAL

Na tarde da última sexta-feira, Arnaldo Baptista ouviu pela primeira vez, de uma enfiada só, os três discos remasterizados por Peninha. Foram 100 minutos de uma viagem ao tempo do último grande assomo de criatividade do ex-Mutante.
Arnaldo ouviu quieto, mas atento. De vez em quando, se virava para o produtor e fazia um comentário breve: "Que loucura, ou "Isso ficou bonito".
Arnaldo em seguida conversou com a Folha, com exclusividade.

Folha - O que você achou da remasterização de seus discos?
Arnaldo Baptista - Quando cheguei aqui não sabia o que esperar dessa nova mixagem. Essa parte de mixagem, de engenharia de som, é superimportante. Às vezes, fica lindo no estúdio e em casa não fica. Fiquei muito entusiasmado em ouvir o trabalho que ele fez com a voz. O Peninha achou o lado claro, inteligível da minha voz.
Folha - A voz e o piano estão, de fato, muito claros, parece que eles estão na frente...
Arnaldo - É difícil encontrar um termo suficientemente bom para descrever quando um som ficou bom. Na época dos Mutantes, a gente usava o termo "lenha", quando estava boa a qualidade do som. Ele recuperou o som, de uma maneira que ficou pesado. Deu uma colorida boa. Eu gostei. Nem o original era tão bom, fiquei contente.
Folha - O projeto de relançar esses discos em CD era uma idéia antiga sua?
Arnaldo - De uma maneira geral, fica tanto trabalho engavetado que a gente até esquece. Eu acho que agora essa aglomeração do meu trabalho vai ser conclusiva, no sentido de saberem quem eu sou e o que eu quero.
Eu estou numa etapa da minha vida em que os Mutantes e meu trabalho passado passaram a ter na minha cabeça uma importância de uns 20% do meu tempo. Eu precisava fazer uma agremiação dos meus trabalhos anteriores. Assim, o pessoal vai me conhecer mais profundamente.
Folha - O que você acha que caracterizava esse período?
Arnaldo - Eu estava ouvindo as músicas e percebi como eu mudava! Uma foi composta na Europa, em Londres, a outra, em Catanduva, São Paulo, ou indo a pé para o Rio Grande do Sul. Em uma, eu gravava primeiro piano, em outra a bateria... Muda bastante o astral.
Folha - Quais são as sua músicas prediletas, desse período?
Arnaldo - Em primeiro lugar é "Cowboy, eu me lembro exatamente de quando compus. Depois é "Emergindo da Ciência", porque fala de um lado mais abstrato, tecnológico.
Folha - As letras desses discos são bastante melancólicas...
Arnaldo - Às vezes, sozinho em casa, eu fico pensando: será que alguém pode pensar que eu sou um latino triste? Hoje, ouvindo as músicas, eu senti um pouco isso.
Eu tenho também um outro lado mais anglo-saxão, que não liga muito. Às vezes, a gente consegue extrair risada de um choro. É muito difícil, mas eu tento.
Naquele período, eu estava mais triste e eu coloco isso nas músicas e nas letras.
Folha - O que você está compondo agora?
Arnaldo -
Eu tenho um estúdio em casa, montado com todo o equipamento. Eu tenho uma bateria igual à do Ringo Starr, um contrabaixo igual ao do Jack Bruce (do Cream), um piano igual ao do Elton John, uma guitarra igual à do Jeff Beck. Tenho todo o equipamento de que preciso. Estou gravando um disco há uns quatro anos. Vai chamar "Let It Bed" -é um trocadilho com "Let It Be", dos Beatles e "Let It Bleed", dos Stones.

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