São Paulo, terça-feira, 3 de outubro de 1995
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Erro ambulante

JOSIAS DE SOUZA

O PMDB caiu num poço sem fim. Quando se imagina que atingiu o fundo, o partido surpreende a todos. Distancia-se mais e mais da borda, como que decidido a tocar o subterrâneo das privações eternas.
No último final de semana, os peemedebistas despencaram mais algumas jardas. Elegeram o deputado Paes de Andrade para a presidência do PMDB. Podem não ter chegado ao seu destino final, mas o inferno não há de estar muito distante.
Paes de Andrade presidirá a maior legenda do Congresso. E o que fez para merecer tal função? Aí é que está o problema. O deputado é a última evidência de que, no Brasil de hoje, um político nem sempre depende da biografia para ocupar postos de relevo.
O deputado, aliás, é reincidente. O raquitismo de seu currículo não impediu que fosse presidente da Câmara. Considerando-se que trapalhadas também têm o seu peso, pode-se dizer que foi nessa condição que sua biografia ganhou meio quilo de densidade.
Como se sabe, em fevereiro de 89, quando substituiu José Sarney, então presidente da República, Paes promoveu uma festa de arromba em Mombaça (CE), seu torrão natal. Levou caravana de Brasília, em jato oficial.
Agora, o PMDB troca a invisibilidade de Luiz Henrique (SC), seu antigo presidente, pela superexposição de Paes de Andrade. Difícil dizer o que é pior.
A saga maldita do PMDB começou com a formação da Aliança Democrática. Na era Sarney, o partido da resistência democrática afundou-se na febre das nomeações fisiológicas. Foi o seu primeiro mergulho no poço.
Na sucessão de Sarney, Ulysses Guimarães foi humilhado. Teve menos de 5% dos votos. Amargou um ridículo sétimo lugar. Afundou-se um pouco mais.
Vieram os desastres Orestes Escândalos Quércia e Luiz Carandiru Fleury. Na sucessão de Itamar Franco, Quércia virou um subEnéas. Ficou abaixo do candidato do Prona. Nova queda.
Sob Fernando Henrique, o partido transformou-se num gigante bobo. Só tem tamanho. Na hora da briga, perde para o PFL e até para o PTB. Com Paes de Andrade, o PMDB mostra que mudou de ramo. Não é mais um partido, mas um erro em busca da perfeição.

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