São Paulo, terça-feira, 3 de outubro de 1995
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Vamos rir

LUIZ CAVERSAN

Não é que, mesmo por vias indiretas, o presidente da República deu uma excelente dica para quem não está conseguindo segurar o tranco da política econômica do governo?
Ainda que com o objetivo claro de esculhambar quem com ele não concorda, como vêm fazendo ultimamente não só o presidente, mas também auxiliares seus -vide recente texto de Gustavo Franco publicado aqui na página ao lado-, FHC deu a boa dica: vamos rir.
Sim, rir. Ele, por exemplo, confessou ontem a empresários que tem vontade de rir toda vez que falam que o país vive uma recessão.
É legítimo. Ri quem quer ou quem pode. E pode-se achar ou não que o país está em recessão. Há divergências entre os especialistas, o que não é o meu caso.
Mas que tem muita coisa acontecendo capaz de arrancar gargalhadas do brasileiro, isso tem mesmo.
Por exemplo, quando o gerente do banco liga para dizer que a conta está estourada e não dá mais para segurar. Claro que nesses momentos o riso é meio amarelo (se é que sorriso tem cor). É mais uma risadinha para descontrair e ganhar do gerente mais alguns dias. Pelo menos até chegar o comprovante de pagamento, conhecido por holerite em São Paulo e contracheque no Rio.
Aí sim a gargalhada aflora. É só dar uma olhadinha no item ``salário-família". Quem não sabe que fique sabendo: são exatos R$ 0,83 por filho. Dá quase para comprar um quilo de frango ou um litro e meio de leite!
Pena que o riso dura pouco, porque quando se olha os descontos para uma Previdência que não há e uma aposentadoria que não virá, aí dá raiva mesmo.
Mas deve-se rir, seguindo o procedimento do presidente, certo?
Mesmo que as demissões não cessem de ocorrer aos milhares, que os preços das coisas básicas para viver continuem aumentando, que as tarifas sejam descongeladas, que as concordatas batam recordes, que os cartões de crédito não dêem mais conta, que a esperança esteja por um fio.
Afinal, como dizia uma antiga seção ingênua e bobinha da velha ``Seleções de Reader's Digest", rir é o melhor remédio.
Mesmo em tempos de recessão.
Que recessão?

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