São Paulo, quarta-feira, 4 de outubro de 1995
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Filiação de Arruda envolve verba para o DF

RUI NOGUEIRA; WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O vice-líder do governo no Senado, José Roberto Arruda (sem partido-DF), retorna hoje ao PSDB depois de uma negociação política que envolveu o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso.
O senador será a partir de hoje o único parlamentar tucano federal do DF. A mudança deflagra desde já a sucessão ao governador Cristovam Buarque (PT). Arruda é um dos candidatos.
Pelo acordo, a União vai bancar os gastos do governo do DF com uma gratificação de 30% para os professores de Brasília -a Tidem (gratificação por Tempo Integral de Dedicação Exclusiva ao Magistério)- e reforçar os repasses nas áreas de segurança e saúde.
Sem essas despesas, sobrarão cerca de US$ 70 milhões do Orçamento do governo do Distrito Federal para retomar as obras do metrô na capital federal.
Arruda já tem definido o mote para uma futura campanha ao governo do Distrito Federal: ``Nem PT nem Roriz".
O senador acha o partido de Cristovam Buarque corporativista e considera o ex-governador do DF Joaquim Roriz um político populista e demagógico. Roriz é o criador do metrô e há duas semanas se filiou ao PMDB.

Amizades
A negociação em torno da filiação de Arruda misturou tráfico de influência, amizades antigas e contou com o apoio do governador petista.
Desde o início do ano Arruda vem tentando garantir o dinheiro para o metrô -a obra já consumiu U$ 600 milhões e está por terminar. Era Arruda, como secretário de Obras de Roriz, quem tocava a sua construção. Na campanha ao Senado, em 94, pelo PP, fez da obra do metrô seu cabo eleitoral.
O envolvimento da obra nas negociações políticas teve e tem a oposição do ministro José Serra (Planejamento). Ele não aceitou incluir no Orçamento da União do ano que vem US$ 70 milhões para o metrô, obra que ele apelidou de ``monumento ao desperdício".
Para contornar a decisão de Serra -que quase estragou a resolução de Arruda de filiar-se ao PSDB-, o senador teve de mobilizar a cúpula tucana, o ministro Pedro Malan (Fazenda) e assessores da Presidência da República.
A costura foi iniciada ainda no início do ano. No primeiro encontro de Cristovam com FHC, o presidente deixou subentendido que a solução do metrô do DF passava por Arruda e deveria ajudá-lo.
O porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral, foi nomeado como interlocutor das negociações e contatos do governo do DF com o Planalto. Amaral conhece Cristovam há cerca de 30 anos, o que facilitou as negociações com o governador petista.
Por decisão do Planalto, Arruda foi tratar do assunto diretamente com o ministro da Fazenda, Pedro Malan. O senador também trabalhou junto ao secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Andrea Calabi, para convencer Serra a ceder.
Mas foi preciso mais apoio: o ex-presidente do PSDB, Pimenta da Veiga -com quem Arruda trabalhou em duas campanhas em Minas Gerais- e o senador Pedro Piva (PSDB-SP), suplente de Serra, também entraram no circuito para convencer o ministro.
Arruda chegou a ameaçar deixar a vice-liderança do governo e permanecer no PP se a União não ajudasse na busca por uma solução para retomar as obras do metrô.

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