São Paulo, quarta-feira, 4 de outubro de 1995
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Líder dos sem-terra diz que eles já deram `trégua de quase 500 anos'

ANA MARIA MANDIM
DA REPORTAGEM LOCAL

Gilmar Mauro, 28, integrante da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), disse, ontem, que as invasões vão prosseguir: ``Não adianta pedir trégua".
``Historicamente já foi dada uma trégua grandíssima, de quase 500 anos. Quem tem de dar trégua para nós é o Estado, que ainda não fez a reforma agrária", disse ele.
``As ocupações são um dos únicos meios de demonstrar que existem terras improdutivas, passíveis de desapropriação, e de dizer ao governo que a situação no meio rural é insustentável, a miséria é generalizada", declarou.
Os comentários do dirigente do MST foram uma resposta ao pedido de trégua do presidente Fernando Henrique Cardoso, que prometeu, em troca, uma ação mais efetiva do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Mauro participa do encontro nacional de lideranças dos sem-terra, que se realiza no Instituto Cajamar, a 40 km de São Paulo.
Ele considera ``muito tímido" o ritmo de assentamento de FHC: ``Se fossem assentadas 280 mil famílias em quatro anos, levaríamos 40 para assentar 2,8 milhões de famílias. Há, hoje, cerca de 4,8 milhões de famílias sem terra". Mauro afirmou que menos de 10 mil famílias foram assentadas em 95, e não 17 mil, como disse FHC.
Felinto Procópio, o ``Mineirinho", 28, dirigente do MST e ``assentado" na fazenda Santa Clara, no Pontal do Paranapanema, disse que a ocupação das fazendas Washington Luís, Marco 2 e Mirante ``não foge" do acordo feito com o secretário de Justiça de São Paulo, Belisário dos Santos Jr.
``Embora as fazendas não estivessem no acordo, elas são de colonizadores que têm outras propriedades no perímetro 11º do Estado. Pelo acordo, os fazendeiros que tivessem mais de três propriedades naquele perímetro perderiam essas propriedades. Célio Romero, dono da Marco 2, por exemplo, tem quatro áreas."
Jaime Amorim, 35, dirigente do MST de Pernambuco, diz que nem o governo do Estado nem o Incra cumpriram o prometido às 2.204 famílias que no dia 8 de agosto invadiram a fazenda Safra. A fazenda é do grupo paulista Etti e, segundo Amorim, está abandonada.
O dirigente do MST prevê novas invasões e afirma que ``os trabalhadores que ocuparam a fazenda estão preparados para tudo".

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