São Paulo, quarta-feira, 4 de outubro de 1995
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Acordo traz ao Brasil acervo de 300 anos

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A PORTUGAL

Brasil e Portugal assinam hoje em Lisboa um acordo para a microfilmagem de 15 mil documentos do século 18 referentes às Minas Gerais. Os papéis estão no Arquivo Histórico Ultramarino, onde se empilham cerca de 300 mil documentos sobre o Brasil.
A microfilmagem garantirá pelo menos mais três séculos de vida aos manuscritos e permitirá que sejam pesquisados no Brasil.
Depois dos documentos de Minas, serão microfilmados papéis de outras regiões do país. São Paulo, que tem ali cerca de 6.700 documentos, é o próximo candidato.
``Trata-se do resgate de 300 anos da história do Brasil", diz Esther Caldas Bertoletti, do Ministério da Cultura. Esther assinará o acordo pelo Brasil.
A assinatura do acordo, que vem sendo negociada desde 1974, é histórica em todos os sentidos.
Já em 1838, o Arquivo Histórico e Geográfico Brasileiro pedia a D. Pedro 1º que providenciasse cópias dos documentos sobre o Brasil que estavam em Portugal.
``É um sonho de século e meio", diz Esther, que coordena o Projeto de Resgate de Documentação Histórica do ministério. Da parte de Portugal, o acordo será assinado pela Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia.
Até o final do ano, microfilmes dos documentos estarão disponíveis no Arquivo Público de Minas Gerais, no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro e na Biblioteca Nacional, também no Rio.
``Os pesquisadores brasileiros não terão mais que vir a Portugal em busca desses papéis", diz Maria Luisa Abrantes, diretora do Arquivo Ultramarino. Ao longo de duas décadas, ela vem acompanhando a ``novela" dessa microfilmagem.
A assinatura desata um nó nas negociações iniciadas ainda em 1974. ``Uma comissão portuguesa esteve no Itamaraty para uma primeira reunião", recorda o embaixador Wladimir Murtinho, assessor especial do ministro da Cultura, Francisco Weffort.
Uma década depois foi criada uma comissão mista, mas as reuniões seguintes não aconteceram.
``Cada lado fazia as suas exigências", diz Murtinho. ``Concluímos que a microfilmagem deveria ser feita por partes."
Minas Gerais saiu na frente graças a uma coincidência: seus documentos já foram catalogados por Caio Boschi, um professor da PUC de Minas Gerais que passou quatro anos enfiado nos arquivos (leia texto ao lado).
``Minas servirá de modelo para os outros Estados", diz Murtinho. A fundação Vitae de São Paulo está bancando metade dos US$ 80 mil estimados para a microfilmagem desses documentos.
O acordo, que deve ser ampliado para outros Estados, prevê que uma cópia do microfilme fique no Arquivo Ultramarino.
Prevê também que os arquivos brasileiros, ligados ao Ministério da Cultura, sejam abertos aos portugueses. O acesso a arquivos estaduais e de outros ministérios deverá ser negociado.

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