São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995 |
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Quando as mãos falam no lugar dos pés
MATINAS SUZUKI JR.
Na época do Mercosul, barbaridades explicitas entre portenhos e brazucas, em campo, são de uma regressão animalesca. Quando o Flamengo consegue fazer uma exibição capaz de devolver à sua magnética (alô, alô, Ben Jor) a capacidade de sonhar, o espetáculo se fecha em tapas e socos. Não haverá avanço, de fato, em nossas sociedades emergentes se o futebol permanecer nesse lamaçal de violência, corrupção, atraso e desorganização. Não só a Confederação Sul-Americana de Futebol deveria punir os jogadores, mas também o Flamengo e o Vélez. Aliás, até Uberlândia deveria pedir uma indenização aos jogadores, pelas cenas de baixaria explícita. No futebol, às vezes, é horrível quando as mãos falam pelos pés. A expectativa para este Brasileiro pré-Olimpíada e de bolso vazio nos clubes era da explosão da testosterona da teenbolada nos gramados. Como mostrou reportagem de Arnaldo Ribeiro e Rodrigo Bueno, ontem, aqui na Folha, é dos trintões que a deusa bola parece estar gostando mais. O futebol continua sendo um gigantesco container de surpresas. Por falar em teenbolada, o miguelito Raul, 18, do Real Madrid, é uma bela promessa. Mas nem o seu jovial talento aliviará a situação do técnico Jorge Valdano, que ontem perdeu para o Valencia por 4 a 3. Em um jogão, aliás. A grande vitória do Valencia sobre o Madrid deixa um derrotado no time vitorioso. O Viola, de quem pode se dizer que a ausência preencheu uma lacuna. Tyson foi condenado por suposto mal a uma mulher negra. O. J. foi absolvido por suposto assassinato de uma mulher branca e loura. Dois negros. Dois esportistas. Dois ícones da sociedade contemporânea, cada vez mais esportista. E negros são bons no esporte... O espertíssimo chileno Ivan ``ban-ban" Zamorano escapa sozinho na área do Valencia. Ao seu encontro, sai o veterano goleiro Zubizarreta, dispensado por Cruyff do Barcelona. Zamorano, aproveitando o embalo do goleiro, dá aquele clássico corte de lado, para ficar solitário diante do gol vazio. Então, o velho Zubi, com uma agilidade tirada não se sabe como daquele mistério do corpo que estica o jaguar ou a pantera em seu pulo, vira-se, atira-se, como um devoto, aos pés do matador chileno e retira a bola, com as duas mãos firmes, dos pés alados do algoz, pronto para executar a sua vítima. Na hora h, no minuto decisivo, no instante fatal. Um belíssimo salto da experiência. O futebol, muitas vezes, fala mais bonito pelas mãos do que pelos pés. Texto Anterior: Brasileiro tem apenas dez estrangeiros Próximo Texto: Ski e vôo Índice |
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