São Paulo, sexta-feira, 6 de outubro de 1995
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Suspeito de atentado reafirma inocência

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O ex-funcionário do Itamaraty Jorge Lomba Mirândola, 48, suspeito de ter montado e enviado o livro-bomba que feriu uma diplomata, terça-feira, negou ontem em depoimento à Polícia Federal que tenha sido o autor do atentado.
Mirândola desafiou a PF a provar que ele foi o responsável pelo explosivo. Segundo policiais, ele só teria assumido que escrevia as cartas com ameaças como alerta para eventuais atentados.
``Não sou culpado. Isso é palhaçada desses caras (a polícia)", disse Mirândola às 11h25, quando chegou, algemado, à sede da Superintendência Regional da PF em Brasília. Ele veio de Belo Horizonte em um avião da Transbrasil.
O ex-servidor do Itamaraty foi preso anteontem, em Poços de Caldas (MG). Foi transferido na noite daquele dia para Belo Horizonte.
O depoimento de Mirândola começou às 11h40 e foi interrompido às 14h. O delegado que preside o inquérito, Mário Nakasa, deixou o prédio da Superintendência para ouvir funcionários do Itamaraty.
Segundo policiais, Mirândola estava calmo e só respondeu aquilo que interessava à sua defesa. Ele é formado em direito.
O ex-servidor insistiu em dizer que ainda servia ao Ministério das Relações Exteriores. Na avaliação da polícia, ele tem uma ``inteligência acima da média".
O inquérito pode durar até 30 dias, prorrogáveis por mais 30. Mas a PF espera apenas concluir a perícia no livro-bomba para, juntamente com demais depoimentos, relatos sobre o seu comportamento e provas -como recortes de jornais e fotos-, indiciar Mirândola.
``Temos indícios veementes de que ele é o autor do atentado. Nunca esperávamos que ele confessasse, até porque é preciso o nexo causal, a relação entre o fato, a confissão e as provas", disse o diretor interino da PF, Moacir Favetti. "Alguns dizem que a confissão é a mais prostituta das provas", completou.
Mirândola tem mandado de prisão preventiva decretado por 90 dias, expedido pelo juiz Pedro Paulo Castelo Branco, da 10ª Vara de Justiça Federal.
Para decretar a prisão preventiva do suspeito do atentado, o juiz o enquadrou nos crimes de lesão corporal gravíssima e no de expor em perigo a vida de outros.
Ao levar Mirândola até a sede da PF no cubículo de um carro da polícia, o delegado Caúla, responsável pelo deslocamento, descumpriu a lei 8.653/93. Ela proíbe "o transporte de presos em compartimentos de proporções reduzidas, com ventilação deficiente ou ausência de luminosidade".
Segundo a assessoria da PF, Caúla justificou o ato por questão de segurança. Temia que o preso ``pulasse no pescoço de um agente", apesar de estar algemado.
Em Belo Horizonte, Mirândola afirmou que o material químico achado pela PF em seu apartamento, no Rio, era usado em trabalhos que fazia.
O suspeito do atentado ao Itamaraty disse que usava ácido fluorídrico para gravar o número de chassis em vidros de automóveis. Afirmou que prestava esse serviço no interior de Minas e São Paulo.
A gravação do número do chassi é usada para tentar evitar o furto de veículos já que dificulta a adulteração do número original.
Quanto ao cartão de um fabricante de explosivos -a Explo-, ele afirmou que o recebeu há dois anos de uma representante da firma porque estava interessado em comprar sinalizadores (como os usados por navios em alto-mar) para revender a políticos.

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