São Paulo, sexta-feira, 6 de outubro de 1995
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Alho virou parte do vestuário na Idade Média

HAMILTON MELLÃO JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Precisamente no dia 24 de setembro de 1368, o rei da Espanha, Afonso de Castela baixava um decreto em que ordenava a todos os súditos que quisessem uma audiência com ele que se abstivessem de comer alho por pelo menos um mês. Este parece ser o estranho destino deste condimento que consegue ser amado por uns e odiado por outros, na mesma intensidade; mas sempre marcando papel determinante na culinária de quase todo o planeta.
O alho (Allium sativum) foi uma das primeiras plantas cultivadas pelo homem, assim como o trigo e o centeio na sua transição de nômade para sedentário e é provavelmente originário da Ásia Central. O historiador grego Herodóto conta de inscrições feitas nas pirâmides de Gizé, nas quais se prescrevia que todo escravo comesse um dente de alho, antes de iniciar seu duro trabalho na construção das pirâmides.
Foi apreciado também por hebreus e gregos, mas recebeu sua consagração definitiva entre os romanos, principalmente nas classes mais baixas; para os soldados de Roma ele era o símbolo da vida e das virtudes militares, e eles sempre carregavam alguns dentes em seus alforjes.
Na Idade Média, acreditava-se que ele trazia proteção contra a peste negra e os cidadãos carregavam várias réstias em seus pescoços numa cena que hoje soa tragicômica se pensarmos que ele entrou no vestuário pessoal, e que fez todas as pessoas e ambientes terem o seu forte odor.
Existe porém propriedades notáveis anti-sépticas e expectorantes no alho, devidamente corroboradas pela medicina atual, que recomenda a mastigação de pelo menos um dente por dia, ou a ingestão de uma cápsula do seu óleo.
Uma maneira simples e deliciosa de usá-lo é como faz o camponês europeu -o alho cru, somente esfregado sobre uma fatia de pão ligeiramente tostado, mais azeite de oliva e sal.
Para ter seu gosto sempre presente, basta adicionar três dentes em um litro de vinagre ou azeite e deixar curtir por 15 dias, use então para temperar saladas, frituras e marinadas; agora para as pessoas que definitivamente não apreciam seu sabor, ele pode ser dissimulado esfregando o dente numa saladeira e colocando a salada por cima, restando assim somente o seu perfume. O alho deve ser sempre picado a faca, e nunca amassado no espremedor como costumam fazer as donas de casa, pois seu óleo é extremamente volátil.
Para contornar o problema do cheiro nas mãos ao descascá-lo, basta esfregá-las com limão ou vinagre, lavando com água depois, e para neutralizar o hálito é só mascar algumas folhas de salsinha depois de comê-lo.

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