São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Banco Central defende privatização total

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A doutrina do Banco Central é pela privatização de todos os bancos estaduais. Isso resulta de argumentos teóricos, mas também da experiência. Desde 1983, o BC aplicou seguidos programas de saneamento dos bancos estaduais, todos sem sucesso, sempre pelo mesmo motivo: a ingerência política na gestão das instituições financeiras.
O atual presidente do BC, Gustavo Loyola, ocupava o mesmo cargo em fevereiro de 1993, quando produziu um extenso documento propondo mais um programa de saneamento.
Na ocasião, Loyola calculava que o BC e o governo federal já tinham enterrado US$ 2,4 bilhões nas diversas tentativas de recuperação de bancos estaduais.
Dinheiro totalmente perdido. E isso sem contar dívidas perdoadas e saques a descoberto desses bancos no BC. Essas saques ocorrem quando o banco não consegue fechar suas contas e toma dinheiro emprestado no BC, numa espécie de cheque especial.
Em resumo, Loyola enfrenta hoje os mesmos problemas que os bancos estaduais apresentavam em 1983, quando ficou clara a crise.
Todos os bancos estaduais sofreram algum tipo de ajuda ou intervenção do BC. Muitos estiveram no "hospital" mais de uma vez. Neste momento, sete bancos estaduais estão sob intervenção -dois deles pela segunda vez.
O de Alagoas, Produban, sofreu intervenção em novembro de 1988. Foi saneado e devolvido ao governo local em setembro de 1991. Quatro anos depois, novamente quebrado, voltou ao BC.
O outro caso é o do Banerj, sob controle do BC desde dezembro de 1994. A primeira intervenção foi em 1987, aliás um ano difícil. Nada menos que 35 bancos e instituições financeiras estaduais, como corretoras e caixas econômicas, sofreram intervenção. Apenas três fecharam.
Dada essa experiência, o BC firmou a doutrina segundo a qual não é possível garantir regras permanentes para o funcionamento correto dos bancos estaduais. Como a influência política sempre prevalece, conclui-se que o melhor é privatizar todo o sistema financeiro estadual.
Para isso, entretanto, é preciso convencer os governadores, deputados e senadores, pois a privatização exigirá sempre a aprovação do Congresso e das Assembléias.

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