São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Estabilidade desmascara situação de bancos estaduais

NELSON BLECHER; CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Se antes do Real o desempenho dos bancos estaduais já era inferior ao dos privados, um ano depois a situação se agravou. É o que revela estudo da consultoria Austin Asis, que pesquisou balanços de 12 bancos oficiais relativos a junho passado.
Sem exceção, o índice de inadimplência (operações de crédito em atraso) cresceu e, na maioria dos casos, atingiu nível superior ao da média do setor, que é de 7%.
Já o indicador de rentabilidade, que mostra quanto lucro foi gerado em relação aos recursos próprios (patrimônio líquido), aponta deterioração. Apenas dois conseguiram, simultaneamente, elevar sua rentabilidade e se posicionar acima da média dos privados -de 12%.
Antes do Real o lucro dos bancos estaduais era sustentado pela inflação. Ganho inflacionário é o lucro que os bancos obtêm aplicando o dinheiro que fica parado nas contas. Era, não raro, a maior parte da receita dos bancos estaduais.
A inflação alta mascarava a situação real dos bancos estaduais. Proporcionava um ganho fácil -obtido com o giro do dinheiro dos clientes- e isso cobria as despesas do dia-a-dia. Tudo parecia um funcionamento normal.
Os bancos estaduais recorriam a expedientes contábeis para transformar prejuízos em lucros.
Por exemplo: o falso aumento de capital. O banco estadual deve ao governo federal. O governo estadual assume a dívida de seu banco -e isso aparece no balanço como se o governo tivesse injetado dinheiro.
Na prática, não aconteceu nada. O Estado continua devendo. Só que a dívida saiu do banco, que passa a apresentar balanço lucrativo. Em junho de 1992, o Banco Central encontrou um patrimônio líquido de US$ 3,1 bilhões.
Isso significava que o que os bancos tinham a receber era mais do que tinham de pagar. Mas feito o ajuste, o patrimônio líquido se transformava em prejuízo de US$ 1,98 bilhão.

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