São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Incesto pode salvar índios da extinção

MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A MINAÇU (GO)

Faça as contas. Sobraram dez índios avá-canoeiro. Seis vivem em Goiás e quatro no Tocantins, separados por quase 500 km. Os grupos não se bicam. Duas tentativas de aproximá-los fracassaram. Em Minaçu (GO), numa reserva à beira do rio Tocantins a 370 km ao norte de Brasília, os irmãos Trumack, 8, e Potdjawa, 6, formam o casal que pode ter filhos. Resultado: um incesto entre eles, ou das crianças com os pais, pode salvar a etnia avá da extinção.
Na Bíblia, impasse similar acabou em incesto. Ló, sobrinho de Abrahão, sobrevive com as duas filhas à destruição de Sodoma e Gomorra. As filhas embebedam Ló e se deixam engravidar para não extinguir a tribo. Está no Gênesis.
Entre os avá, a decisão é tão grave quanto a história de Ló. Incesto para os tupi, macrogrupo ao qual pertencem os avá, é punido com pena de morte. Pelo menos uma vez os avá mandaram o tabu às favas. Tatia, uma avá do grupo de Tocantins, diz que teve uma filha de seu pai. A criança morreu.
``Acho que Trumack e Potdjawa não vão se casar", arrisca a antropóloga Eliana Granado, 41, que pesquisa o grupo desde 1987. ``Nenhum povo do mundo pratica incesto, é o que diferenciou o homem do macaco", diz o antropólogo Mércio Gomes, 43, presidente do Instituto de Pesquisas Antropológicas do Rio. O que é certo, para Gomes, é que os avá são ``o caso mais grave no Brasil de grupo indígena em extinção."

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