São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Véu e grinalda ainda seduzem mulheres

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O sonho não acabou. Entrar na igreja vestida de noiva parece fantasia inconfessável de solteirona encalhada, mas não é bem assim.
As mocinhas de fim de século (as da ``geração X" inclusive) e as mais velhas (que se casam pela segunda vez ou depois de muito tempo vivendo junto com o namorado) confessam que gostam da idéia de subir ao altar.
``Estou achando tudo muito divertido", diz a fotógrafa Andréa Marcondes de Godoy, 25, que está com casamento marcado para o dia 27 de novembro. ``Meu namorado foi lá em casa e conversou com meus pais. Sei que eles preferem mil vezes que eu me case na igreja e com festa. Para mim, tudo bem. Não custa nada."
Mais ou menos. Especialistas em casamentos dizem que a felicidade, nesse caso, tem seu preço.
``Uma festa dessas, hoje, não sai por menos de R$ 50 mil", diz a veterana Suely Galla de Oliveira, 50, dois casamentos com padre e festa. Ela ``adora" se casar.``É uma sensação indescritível."
Suely flagrou o primeiro marido saindo com a secretária quando tinha 32 anos (12 de casada), mas reabilitou a fantasia e se casou pela segunda vez seis meses depois.
``O vestido era vermelho -de paixão- e o sonho era o mesmo da primeira vez. Consegui a bênção de um padre da igreja ortodoxa e entrei no bufê com véu, grinalda, tudo a que tinha direito."
Muita gente, como Suely, apela para outra religião na hora de transformar o sonho em realidade. ``O padre que me casou na capela da PUC não sabe até hoje que eu sou espírita de frequentar centro", diz Graziela França, 28.
Ela justifica a opção pela Igreja Católica: ``Queria deixar claro que estava me casando". Graziela escolheu um vestido diferente, para não ficar com cara de ``noiva abajur". A idéia do modelo foi dela (``tinha capa e capuz por cima da coroa de ouro").
Noivas cheias de idéias são o maior medo do estilista Walter Rodrigues, que faz vestidos ``para uma clientela cool". ``Quem me procura quer fugir do `bolo de noiva' (vestidos bufantes, com muitos detalhes)", diz Walter.
Ele costuma submeter a cliente a um questionário para saber ``as referências dela (a década de que ela mais gosta, o melhor filme, o tipo de roupa que veste)".
Walter diz que muitas delas ficam tão nervosas com a expectativa do casamento que até sonham (de verdade) com a cerimônia.
``Teve uma que sonhou que o vestido tinha sido entregue todo amassado, dentro de uma sacola, e sem o sapato. O motorista teve que passar no shopping, no caminho da igreja, para comprar um par".
O nervosismo da noiva é quase uma praxe. Mesmo que o casamento venha depois da convivência como marido e mulher. ``Minha filha estava ansiosa como uma mocinha de 18 anos", diz Tude Hotte, mãe da noiva Tereza Hotte, 37, que se casou há duas semanas com o piloto Emerson Fittipaldi, 48, no Vaticano. Os dois já viviam juntos havia 12 anos.
Outra sensação comum às vésperas do casamento formal é uma espécie de ``paúra" (medo).``Casar de véu e grinalda é um compromisso mais sério", diz a jornalista inglesa Lucy Needham, 31, mulher de Herbert Vianna.
Os dois se casaram em uma cidade de campo, na Inglaterra, segundo a mais rigorosa tradição anglicana: sermão do padre, discurso dos padrinhos e banda de música. Lucy teve outros namorados antes (e chegou a morar junto com alguns), mas escolheu o roqueiro para ser ``o homem de sua vida".
Dependendo do credo, o noivo agradece a Deus a escolha da noiva. ``Ele vai à sinagoga só para isso, um dia antes do casamento", diz a judia Adriana Tajger Kachani, 26, quatro anos de casada. A felicidade de se casar de véu e grinalda parece ter tomado conta de Adriana para sempre. ``Meu casamento é um sonho".

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