São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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A América Latina em debate

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Os americanos são bons em algumas coisas. Formar associações de estudo é uma delas. E assim tivemos, no fim da semana passada, a 19ª reunião da Associação de Estudos sobre a América Latina, em Washington.
Nessa grande reunião, que ocorre em intervalos de 18 meses, quase 90% dos participantes são de ciências políticas, sociologia, literatura, cinema etc. Nos últimos anos, há também uma pequena (mas crescente) participação de economistas.
Nesta última reunião da Lasa (sigla da entidade em inglês), presidi uma mesa interessante que contou com Carlos Braga (Banco Mundial), Jorge Requena (Banco Interamericano) José Seligman (Banco Interamericano) e Leslie Armijo (Universidade de Northeastern).
A presença desses estudiosos permitiu uma útil discussão comparada das experiências do Brasil, Bolívia e México com ajuste fiscal e abertura externa das suas respectivas economias.
O ministro brasileiro Bresser Pereira foi um dos convidados de destaque da Lasa. Proferiu uma das palestras com maior audiência, sobre os princípios gerais que devem orientar as reformas administrativas.
Em outra mesa bastante concorrida, Gesner de Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e atual secretário adjunto de Política Econômica, apresentou sua avaliação otimista sobre o Plano Real e as perspectivas de crescimento da economia para os próximos anos (sobre as quais estamos de acordo).
O encontro permite que se conheça também alguns dos novos valores em formação. Francisco Ferreira e Julie Litchfield, doutorandos em economia na London School of Economics, apresentaram um estudo detalhado do impacto dos planos de ajustamento da economia nos anos 80 sobre a desigualdade de renda e sobre a pobreza absoluta no país.
Francisco e Julie examinam as evidências de aumento da concentração de renda e da pobreza absoluta no Brasil nos anos 80 usando os dados da Pnad (levantamento anual feito pelo IBGE).
Um dos fatos que sublinham é que, enquanto 80% da população perdeu participação no bolo da renda, "somente" os 30% mais pobres tiveram uma piora inequívoca de seus rendimentos. Isso independentemente do critério de medida.
Outros indicadores de pobreza que coletaram revelam a mesma deterioração, embora o comportamento desses indicadores tenha sido mais cíclico.
Embora os índices de desemprego e dos salários reais sejam estreitamente correlacionados com as medidas de pobreza, o aumento da desigualdade parece ter sido ditado pelos saltos dados pela inflação.
Por que congressos como esse da Lasa são importantes? É por meio dessas reuniões internacionais que se pode tomar conhecimento dos temas que estão sendo estudados por nossos colegas estrangeiros.
Da mesma forma, os avanços tecnológicos sendo incorporados nos novos estudos tornam-se conhecidos dos nossos pesquisadores, ao serem apresentados nessas reuniões.
Como digo sempre aos meus alunos: no Brasil, os pesquisadores produtivos podem receber salários baixos, mas, em compensação, recebemos muitos bilhetes aéreos para congressos internacionais.

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