São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Superinflação reduziu a dívida, diz consultor

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A superinflação que prevaleceu no país até o ano passado fez, embora de forma mais lenta, o mesmo serviço que as hiperinflações: reduziu a dívida do Estado.
A avaliação é do consultor Raul Velloso, que completa: ``Esse serviço é permanente."
A dívida líquida do setor público bateu em 54% do PIB (Produto Interno Bruto, uma medida da riqueza nacional) em dezembro de 1984. Em junho deste ano, já correspondia a 29% do PIB.
Por dívida líquida deve-se entender toda a dívida que paga juros, descontada as aplicações do governo que rendem juros. É o caso, por exemplo, das reserva internacionais (o caixa em moeda forte do país).
Segundo os números levantados por Velloso, foi justamente a dívida externa que experimentou o maior emagrecimento.
É que, neste mesmo período, a dívida interna passou de 38% para 67% do endividamento geral -sendo que a parte referente a Estados e municípios subiu de 13% para 38% do total.
Falando a convite da MB Associados para uma platéia de executivos de bancos e de grandes empresas, Velloso afirmou que os analistas não estão enxergando corretamente ``este efeito provocado pela inflação no endividamento, que não será revertido, já foi feito e acabou, não é o mesmo operado nas contas públicas".
No caso da gestão de caixa do Tesouro, a inflação jogava a favor de um pretenso equilíbrio.
Bastava que o gestor cerrasse os dentes, segurasse os gastos no primeiro semestre e liberasse as verbas só no segundo. A inflação ``comia" os valores, equilibrando o caixa.
``Isso acabou", afirma, para depois completar: ``A inflação não vai mais servir como uma cortina, que encobria o déficit."
Assim, acredita, a partir de agora, ``mesmo que o governo continue com o mesmo esforço de controle no caixa, a situação do saldo primário (receitas e despesas, excetuando-se os pagamentos de juros) deve piorar".
Segundo Velloso, é por isso que, para o governo, a aprovação da prorrogação do FSE (Fundo Social de Emergência) é uma questão vital. ``Sem inflação, ele é a única maneira de que dispõe o governo para viabilizar a realocação do orçamento."
Outra peça essencial será a aprovação, e ele aposta que o Congresso acaba aprovando, do CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).
Para Velloso, será praticamente impossível ao governo manter na situação miserável de hoje os ministérios da Educação, Transportes, Infra-estrutura e militares (os mais atingidos pelo arrocho).
Parte dos gastos desses Ministérios já foram ``na marra" repassados para os Estados (especialmente educação e transportes), o que ajuda a explicar a situação de caixa dos governos estaduais.
(JCO)

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