São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Carro mundial muda fábrica da Ford

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A revolução tecnológica que toma conta da produção de veículos em vários países do mundo chega à Ford brasileira.
No dia 4 de abril do ano que vem, a Ford lança novo carro no mercado nacional.
O Fiesta, um dos modelos mundiais da marca, entrará no mercado para competir com o Gol, o Corsa e o Uno na faixa dos carros pequenos e ``populares".
Para produzir o Fiesta, a Ford está praticamente erguendo uma nova fábrica na área que ocupa desde 1967, em São Bernardo do Campo. O investimento no projeto atinge US$ 850 milhões.
O número de funcionários diretos deve cair dos 8.800 atuais para 6.000, um corte de 32% no efetivo.
Mas a produção diária aumenta: de 950 para 1.050 carros por dia, quando a linha de montagem do novo carro estiver operando a toda capacidade. Ou seja, 10,5% a mais. A produção anual do Fiesta será de 225 mil unidades.
Medida pelo número de carros produzidos anualmente por empregado, a produtividade deve crescer 64%. Atualmente a Ford produz 20 veículos por empregado/ano. Com o Fiesta vai ser capaz de atingir 32 veículos por ano.
A fábrica da Ford no ABC vai produzir apenas o Fiesta. Os modelos produzidos hoje pela marca no país -entre eles o Escort- serão transferidos gradualmente, até final de 96, para a fábrica da Ford na Argentina.
``Para enfrentar a competição em nível mundial, é preciso reestruturar profundamente o parque industrial", conta Luc de Ferran, 52, diretor-executivo de Operações de Carros da Ford Brasil e Argentina.
``Essa é uma estrada sem alternativas. Todos os fabricantes estão atrás do mesmo objetivo", diz.
Para enfrentar o desafio, a Ford está alterando completamente o layout da fábrica.
Comprou equipamentos de última geração para produzir o Fiesta. Serão utilizados 97 robôs na linha de montagem, contra os cinco que a fábrica possui atualmente.

Terceirização
Além de elevar o índice de automatização, a Ford está terceirizando a produção de componentes. A empresa decidiu transferir para fornecedores a fabricação de itens antes feitos ``em casa".
Várias etapas da pintura do carro, por exemplo, ficarão a cargo da empresa fornecedora das tintas.
Grande parte das peças do carros vai chegar como conjuntos já montados, prontos para serem colocados no carros. Ferran dá como exemplo a suspensão: ``Antes comprávamos as cerca de 20 peças que compõem a suspensão e montávamos em casa", diz. ``Agora, um fornecedor vai entregar o sistema completo na linha de montagem."
O total de peças na montagem cai de 4.000 para 2.800.
O número de fornecedores também será reduzido. Hoje são 400, em média. Vão ficar cerca de 300.
O layout da fábrica muda. Atualmente, as diversas etapas de montagem estão espalhadas em três níveis diferentes.
Na linha do Fiesta, tudo será concentrado em um nível só, com economia de mão-de-obra e movimentação de material e equipamentos.
``Vamos economizar tempo, mão-de-obra e espaço físico", conta Ferran. ``Vai haver uma drástica diminuição do ciclo de manufatura".
O ciclo de manufatura é o tempo decorrido entre a entrada da bobina de aço, usada para fazer peças como pára-lamas e capô, até a saída do carro completo da linha de montagem.
``Hoje em dia a Ford leva quatro dias para completar o ciclo. Com o Fiesta, passaremos para dois dias e meio. Nosso objetivo é chegar a 12 horas".
Com um ciclo de manufatura menor, diminui a necessidade de manter estoques. Com o Fiesta, o estoque será para sete dias de produção, metade da exigência atual.

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