São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Desafio de sucessor é gerar US$ 500 mi até o ano 2000

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando retornar de um giro de negócios pela Europa com a mulher, o empresário gaúcho William Ling, 38, vai abrir um envelope e saber como se saiu no primeiro teste de liderança desde que o patriarca Sheun Ming Ling, 74, o apontou seu sucessor na Petropar -maior fornecedora de não-tecidos (fibras naturais ou sintéticas) para a indústria de fraldas e absorventes que, há nove meses, passou a fabricar embalagens plásticas de refrigerantes.
A avaliação dos chefes pelos subordinados em escrutínio secreto foi uma das práticas introduzidas por William em seu noviciado de presidente, já que o bastão lhe será passado em 1996. ``É a única forma de conduzir relacionamentos transparentes na empresa", afirma William, administrador de empresas com mestrado na Universidade de Stanford.
Caberá a ele zelar pelo sucesso de programas de expansão que, segundo o plano estratégico traçado, deverão sextuplicar o faturamento e fazer com que a empresa atinja vendas de US$ 500 milhões até o final da década.
``O faturamento vai mais que dobrar em 1995. Vamos colher os frutos de investimentos feitos nos últimos três anos", revela William, ao citar a unidade de embalagem erguida em Horizonte (CE), cuja capacidade de produção é de 450 milhões de unidades por ano.
``Estamos nos posicionando junto a segmentos de consumo popular cujo potencial de crescimento é elevado", acrescenta. É o caso do setor de fraldas descartáveis.
Só 6% dos bebês brasileiros usam. Mas as vendas crescem 50% ao ano, à medida que o preço se aproxima do padrão internacional.
Unida à norte-americana Crown, Corck & Seal, a Petropar investe US$ 140 milhões para erguer unidades industriais de um leque diversificado de embalagens: de latas de aerossol e conservas a tampas plásticas; de garrafas de plástico a latas de alumínio para cerveja e refrigerante.
William faz segredo do local onde será instalada a planta de latas -``entre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais", despista-, de cujas linhas sairá 1,6 bilhão de unidades por ano.
Foi ele quem conduziu as negociações que resultaram na joint venture com a Crown, anunciada em fevereiro passado. ``Já admirava essa companhia em 1991, quando estudava em Stanford", conta. ``Embora não fosse a maior do setor, detinha a melhor rentabilidade e o menor custo."
As máquinas serão ligadas no final de 1996. A operação deve gerar vendas anuais de US$ 350 milhões. Com isso, a área de embalagens deverá representar acima de 50% do faturamento da Petropar.
Desde 92, o grupo mantém uma subsidiária em Mooresville, Carolina do Norte (EUA), o que obriga William a viagens constantes -foram seis no ano passado-, para supervisionar os negócios e visitar feiras.
Fornecedora de não-tecidos para uma gama de indústrias líderes -de absorventes higiênicos a material médico e de jardinagem-, a Fitesa North America fatura US$ 25 milhões anuais e emprega 90 funcionários (quatro brasileiros). As vendas nos EUA são ascendentes. Duas novas linhas de produção foram inauguradas em 94, ao custo de US$ 7 milhões.
"A operação americana nos expõe a um mercado altamente competitivo." Isso obriga a empresa a inovações e aprimoramentos técnicos, simultaneamente transferidos para a matriz. Um centro de tecnologia foi implantado.
``Estamos enviando para lá brasileiros em programas de treinamento", informa. Outro trunfo é poder se relacionar com clientes multinacionais, o que facilita negócios no Brasil.
O desafio, diz William, é atingir a liderança latino-americana. Os volumes cresceram 52% em 94. ``Temos posições fortes na Argentina, no Chile e no Uruguai".
"Antes quem decidia era meu pai, e minhas opiniões eram tidas como recomendações. Hoje sinto que os papéis se inverteram", diz.
O patriarca deu, finalmente, sinal verde para que William ocupe seu espaço. ``Esse negócio de sucessão é complicado por se tratar de fundador que, durante 40 anos, sempre conduziu o show", brinca.
O chinês Sheun Ming Ling desembarcou sozinho no Rio de Janeiro, em 1951, sem falar português. Mudou-se para Santa Rosa (RS), onde instalou a primeira indústria de óleo de soja. Casou-se com Lydia Wong, com quem teve quatro filhos. Moraram na fábrica.
Em sociedade com um patrício, Charles Tse, montou um diversificado complexo industrial, o grupo Olvebra. A Petropar resultou da cisão, em 1988, dos negócios entre as duas famílias.

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