São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Maioria das empresas `zera' inflação na data-base anual

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A legislação do Real não garante mais a reposição integral da inflação na data-base dos assalariados. As empresas são obrigadas a dar apenas o resíduo do IPC-r até junho de 95. Mas, ao contrário do que se esperava, a maioria vem ``zerando" a inflação.
Rubens Branco, sócio-diretor da Arthur Andersen, consultoria que faz pesquisas sobre antecipações salariais, informa que a grande maioria das 226 empresas ouvidas em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Espírito Santo repõe toda a inflação.
Essa prática, para ele, tende a ser mantida enquanto a inflação estiver acima de 10% ao ano.
Wilson Amorim, coordenador do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), confirma que isso de fato vem ocorrendo.
``Zerar" a inflação, diz Amorim, é ponto de partida nas negociações, pelo menos da parte dos sindicatos de trabalhadores. ``Quem tem endurecido mais é o setor público", diz ele.
Sinal da ``zeragem" da inflação mesmo sem imposição legal foi dado pelo setor financeiro. Na primeira proposta feita aos bancários, que têm data-base em setembro, foi oferecido um reajuste de 27%, descontadas as antecipações (de 8% a 16,64%).
Para setembro, o que sobrou de IPC-r foi menos: 20,94%.
Se for computado também o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) de julho e agosto de 95, completando os 12 meses entre as datas-base, a inflação seria ``zerada" com 25,19%. Ainda assim o percentual ficaria abaixo dos 27% propostos pelos bancos.
Nas rodadas seguintes de negociação, a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) elevou para 30% o percentual de reajuste sobre o salário de um ano atrás ou 14,64% sobre o de agosto passado, valendo o maior resultado.
Propôs ainda um valor extra sob a forma de participação nos lucros, concedido uma única vez: 72% do salário mais R$ 200 fixos.
Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banespa estão propondo apenas o resíduo do IPC-r (20,94%), mas outra estatal, a Petrobrás, aceita reajustar os salários em até 29,8% na mesma data-base de setembro.
O que vem dificultando as negociações no item inflação passada, tanto entre os bancários quanto os petroleiros, é que essas categorias reivindicam reajuste com base num índice que, no acumulado de 12 meses, resultou bem maior que todos os demais.
O ICV (Índice do Custo de Vida) do Dieese alcançou 48,84% de setembro de 94 a agosto de 95.
IPC-r mais INPC no mesmo período acumularam 25,19%. O INPC sozinho deu 25,80%. O IGP (Índice Geral de Preços) ficou em 22,29%, segurado pelo seu principal componente, o IPA (preços no atacado), com 15,86%.
Pelo menos nos casos de bancários e petroleiros, duas categorias de peso na economia, a maior divergência no item inflação não está nela em si, mas no índice escolhido para mensurá-la.
É difícil, porém, que somente o impasse em torno do índice adotado provoque pedido de dissídio na Justiça. Até a data-base de julho passado, praticamente todos os acordos foram fechados em cima do IPC-r, e não do ICV do Dieese.

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