São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Alemães ainda estranham a força do país reunificado

DO "LE MONDE"

A Alemanha unificada ainda não se acostumou com ela mesma, talvez menos ainda do que o mundo já se acostumou com esse novo gigante que procura utilizar sua força de anão que cresceu demais.
A unificação teve um custo psicológico e moral, e isso pesa sobre a capacidade de os alemães se sentirem bem consigo mesmos.
A polêmica criada em torno do último livro de Günther Grass, ``Ein weites Feld" (Um Campo Extenso), é sintomática do mal-estar que paralisa o mundo intelectual alemão. Aqueles que deveriam ser os guias espirituais e morais, os poetas e pensadores, se criticam mutuamente, se acusam mutuamente de complacência com o defunto regime comunista.
A única instituição que não conseguiu se reunificar é exatamente o Pen-Club, a associação de escritores cuja seção ocidental se recusa a admitir os membros da seção oriental enquanto esta não tiver excluído de seus quadros os escritores demasiado comprometidos com o regime comunista.
Essas polêmicas entram em ressonância com as frustrações que se manifestam nos novos Estados, relativas à ``brutal colonização" do território pelos homens do oeste.
A Saxônia e a Turíngia (ex-Alemanha Oriental) têm líderes ocidentais, e embora em outros Estados o poder seja nominalmente exercido por homens e mulheres da antiga Alemanha Oriental, as engrenagens administrativas estão sob o firme controle de funcionários ocidentais.
O afastamento de oficiais, diplomatas e altos funcionários do antigo regime levou ao surgimento de um enorme exército de ``oficiais de meio soldo", cujo rancor alimenta o mau-humor oriental.
Resultado: enquanto a Alemanha e seus líderes políticos e intelectuais deveriam agora olhar para um horizonte mais amplo, a Europa (e ainda mais longe), eles se fixaram numa introspecção mórbida e cultivam suas angústias. Para citar o ensaísta Henryk Broder: ``Não é fácil ser alemão. Se nos pronunciamos favoráveis a uma intervenção militar na ex-Iugoslávia, imediatamente desconfiam que estejamos querendo seguir os rastros do Exército nazista. Se nos pronunciamos contra, dizem que aprendemos muito bem as lições da história -as más".
As tentativas de superar essa perplexidade são tão raras quanto notáveis. Elas partem dos antigos ecologistas pacifistas, ``puros e duros": Joschka Fischer, chefe do grupo de deputados verdes no Bundestag (Parlamento), e o "eurodeputado Daniel Cohn-Bendit.
Eles procuram fazer seus concidadãos compreenderem a existência de uma contradição entre erguer-se em massa assim que o Greenpeace afirma -erroneamente- que é criminoso depositar uma plataforma petrolífera no Atlântico, e esconder-se por trás de sua própria sombra quando se trata de pôr um fim a uma guerra mortífera na vizinhança.

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