São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Carandiru

Passados agora três longos anos, um processo de 70 volumes ainda se arrasta pela Justiça Militar, na busca de culpados entre os 350 desarvorados policiais que invadiram a Casa de Detenção em São Paulo e massacraram 111 presos.
Por maiores que devam ser os cuidados processuais, nada justifica -dada a dramaticidade do crime ocorrido- que aquela instância judiciária não disponha de um parecer minimamente conclusivo que permita uma identificação inicial de responsabilidades e a aplicação das devidas penalidades.
As promessas de desativação do presídio não foram cumpridas, esperando-se talvez que a providência divina possa evitar novos desatinos. Como palitos de fósforo próximos a um barril de pólvora, centenas de prisioneiros ainda se esfregam no Carandiru, prontos para gerar nova e fatal combustão.
Enquanto isso, policiais militares sem o devido preparo para exercer suas funções podem a qualquer momento aplicar novamente a pena de morte a quem tomarem por marginal, pois contam com a certeza de que, onde existe impunidade, ``o tempo tudo apaga".
A morosidade nas apurações reforça a inevitável impressão de que o vício do corporativismo paralisa a Justiça Militar, num momento em que, ao contrário, ela deveria demonstrar todo afinco e empenho em investigar aquele momento negro da história carcerária mundial e punir severamente os culpados.

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