São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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O dossiê incompleto

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - O dossiê que a Folha publica hoje sobre financiamento das campanhas eleitorais de 94 reforça a tese de que não é mais possível postergar a reforma política.
As reportagens são impressionantes não apenas pelos números e personagens públicos e privados que revelam, mas por mostrar que são apenas parciais. E são parciais por dois motivos, os dois escandalosos.
Primeiro, porque apenas 13 dos 27 tribunais regionais eleitorais apresentaram, um ano depois da eleição, suas contas ao TSE.
Como falar em transparência, cidadania, ética e outros conceitos cada vez mais abstratos se os instrumentos de controle e fiscalização não funcionam?
Um parêntese neste capítulo da fiscalização dos poderes públicos: essa negligência não é um privilégio dos tribunais eleitorais; reportagem recente da Folha mostrou que em várias casas legislativas os parlamentares não exercem há anos o direito e o dever de fiscalizar as contas do Executivo.
O segundo escândalo é a certeza que fica de que os números oficiais são fictícios. É provável que neste momento candidatos, tesoureiros e doadores estejam rindo da ``ingenuidade" da Folha.
Uma pessoa ouvida pelo jornal, e que atuou como tesoureiro nas últimas eleições, informou, com a garantia do anonimato, que os candidatos gastaram três vezes mais do que declararam. Alguém tem dúvida?
As eleições exigem regras claras e definitivas e um controle profissional e rigoroso. Essas seriam as únicas garantias de transparência. O que ocorre hoje é o oposto: leis casuísticas, que mudam a cada eleição, e um controle frouxo.
É um sistema que facilita o abuso econômico e a manipulação política. A grande preocupação da maioria dos parlamentares é a de dificultar a ação da Justiça Eleitoral e da imprensa.
A primeira versão da lei que regerá a eleição de 96 estimulava as doações sem identificação. O dispositivo caiu diante da gritaria geral.
Os maiores escândalos pós-regime militar estão ligados às relações corruptas entre políticos e poder econômico. A origem do Collorgate está nos financiamentos da campanha presidencial de 89, e a CPI do Congresso mostrou parlamentares que ajudavam empresas privadas a assaltar o Estado.
Nos dois casos ficou comprovado que ninguém trabalha de graça.

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