São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995 |
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Varejão eleitoral
JOSIAS DE SOUZA BRASÍLIA - Em julho de 92, em depoimento à CPI do Collorgate, PC Farias disse uma porção de lorotas: não possuía empresas no exterior, nunca tratara de negócios com Collor, não nomeara ninguém no governo...Em meio às mentiras, o tesoureiro de Collor disparou uma verdade: a discussão sobre gastos eleitorais é dominada pela ``hipocrisia". A sala da CPI transbordava deputados e senadores. Eram os alvos de PC. Pois nenhum deles disse palavra. Reportagens publicadas hoje pela Folha, no caderno Eleição S/A, ajudam a entender por que os políticos, sempre tão falantes, gostam de guardar silêncio quando o que está sob foco é a origem do dinheiro que abastece os seus caixas de campanha. As eleições brasileiras transformaram-se numa indústria, eis a constatação que salta das reportagens, baseadas na escrituração oficial da última campanha. O varejão eleitoral é controlado pelo poder econômico. Lucram todos os envolvidos, exceto o eleitor. Se você não votou nem branco nem nulo nas eleições de 94, atenção. São enormes as chances de que o seu voto tenha emprestado apoio a um candidato comprometido com o interesse privado. A contabilidade da última campanha demonstra que o baronato empresarial é o poço monetário que irriga as contas dos candidatos. Há gastos oficiais, registrados no TSE. Há também o hediondo caixa dois. Empresário, como se sabe, não entra em negócio sem perspectiva de lucro. Assim, segue-se à eleição um esforço para reaver, na forma de favores do Estado, o dinheiro investido. Amigos da empreita instalam-se nas proximidades de cofres públicos, emissários da indústria despacham com deputados e senadores, sondas diversas são fincadas no Orçamento da União... É evidente que não se faz eleição sem dinheiro. A verba eleitoral pode ser pública, como na Alemanha, ou privada, como nos EUA. O que incomoda no caso brasileiro não é propriamente o numerário, mas a bruma de mistério que costuma envolvê-lo. Resta sempre a impressão de que, passado o pleito, os políticos e seus financiadores constituem uma parceria para tungar o contribuinte. É hora de pôr fim à bandalheira. Texto Anterior: O dossiê incompleto Próximo Texto: O berro que o gato deu Índice |
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