São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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escritor que deu cria

JACKSON ARAUJO

Atrapalhou assumir a homossexualidade?
Infelizmente sim, sem que eu imaginasse o tanto. É claro que não me refiro a atitudes estereotipadas, que ainda sobrevivem, mas a coisas mais sutis, como a conspiração do silêncio, as coisas ditas por trás, os argumentos que mudam. Não te acusam mais de bicha, mas de militante. Marilene Felinto, por exemplo, escreveu um artigo em que me incluía entre os escritores homossexuais, segundo ela, todos militantes. É engraçado, porque quando Jorge Amado escreve "Dona Flor e seus Dois Maridos" ou Henry Miller fala com da genitália feminina, não são militantes heterossexuais.
E os novos projetos literários?
Um deles é "Viagem a Veneza", o making off de "Ana em Veneza" contando minha viagem interior e peripécias ao fazer o livro. Outro, sobre o câncer linfático do meu irmão Cláudio, em que escrevo com ele uma autobiografia da vivência de um problema tão violento como esse. Ainda "O Anjo de Chuteiras", sobre um jogador de futebol que se confronta com sua homossexualidade, e "A Fé e a Lâmina", sobre um jovem poeta que vai para a Alemanha. Falo de minhas experiências com brasileiros que vivem fora.
E sobre a atitude gay dos anos 90?
Me assusta a idéia dos barbies, essa homossexualidade em série, em função da questão da moda. Acho que a vivência amorosa, afetiva e sexual está muito além da moda. É relacionada com a vida interior e isso me assusta porque dá a impressão de que as moscas estão mudando, mas os doces continuam os mesmos.
Você se considera um romântico?
Acho que os românticos, historicamente, foram os iniciadores da idéia de modernidade. Neste sentido, não tem como escapar. Nós somos românticos. Somos românticos arrependidos no final do século 20.

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