São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995
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Fragmentação gera nova `revolução' na publicidade

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Transformações radicais, ainda que algumas delas ainda não sejam claramente perceptíveis, estão mudando a face do mercado de publicidade norte-americano. Eis alguns sinais:
Duas décadas atrás, 70% das verbas de marketing dos anunciantes eram direcionadas para as mídias tradicionais. O percentual declinou para apenas 28%, ou cerca de US$ 130 bilhões em 1994, segundo a Donnelley Research. A diferença é usada na sustentação de programas promocionais.
Um anunciante que, 15 anos atrás, veiculasse um comercial de 30 segundos em uma das três grandes redes de televisão alcançaria 90% dos lares norte-americanos. Hoje gasta mais para atingir somente 60% dos lares.
Marcas privadas (``label brands"), de propriedade de megavarejistas, se tornaram uma ameaça progressiva às indústrias. Já representam 20% dos volumes vendidos em lojas e 15% dos supermercados, segundo o publicitário Lester Wunderman.
A idade média dos norte-americanos atingiu 34 anos. Em 1970, era de 28. Nos anos 90, o contingente situado na faixa entre 18 e 34 anos foi reduzido em 8 milhões. Isso influencia os volumes de vendas do primeiro carro, do mobiliário da casa etc.
A fragmentação da mídia com o surgimento de novos meios para novos públicos, e a necessidade de se renovar as práticas tradicionais de marketing foram expostas em São Paulo por Joe Cappo, vice-presidente da Crain Communications, que edita ``Advertising Age", apontada como a bíblia da publicidade nos EUA.
``Acabou a revolução da TV", disse ele à Folha, ao se referir à primeira ``revolução" das redes de TV, com base na qual as agências montaram suas estruturas e guiaram suas operações de mídia ao longo das últimas quatro décadas.
``Hoje, 70% dos lares norte-americanos estão equipados para receber TV a cabo", afirmou. ``Dois sistemas de satélites possibilitarão a entrada nos lares de 150 canais".
Para o executivo norte-americano, as agências precisam estar capacitadas a também explorar o mundo novo das mídias alternativas, que fascina anunciantes.
O patrocínio esportivo é uma delas. A Pepsi-Cola pagou US$ 68 milhões pelo privilégio de emprestar seu nome ao estádio de Denver, assim como a United Airlines rebatizou o United Center, onde treina a equipe do Chicago Bulls.
``Chegamos ao ponto em que até um casamento ganha patrocínio", acrescentou, ao mencionar os US$ 600 mil investidos pela Coca-Cola no matrimônio de um membro da família real da Espanha.
Outra estratégia reforça a imagem corporativa nos pontos de vendas. Três grandes redes de postos de gasolina estão instalando monitores de TV nas bombas, que transmitem comerciais enquanto os clientes abastecem seus carros.
A indústria que produz o tênis Fila, associada a um varejista, mandou instalar 625 tabelas de basquete em playgrounds para difundir sua marca.
Curiosamente, uma das práticas adotadas nos primórdios da TV está sendo reciclada. Cappo diz que a Procter & Gamble uniu-se ao estúdio Paramount para produzir e distribuir seus próprios programas.
Também está ocorrendo grande crescimento na área dos infomerciais, que são programas de venda direta via TV. Esses programas são produzidos por agências especializadas.
Empresas como a General Electric e a General Motors lançaram cartões para reforçar laços de fidelidade dos consumidores.
O laboratório Merck investiu US$ 6 bilhões na aquisição da Medco, líder de vendas diretas de medicamentos, que possui informações sobre o perfil de 33 milhões de consumidores.
Tudo para não capitular em um mercado que garantiu sobrevida a apenas 14% dos 84,9 mil produtos lançados na década passada.

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