São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995
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Palestra, aqui, tem frango e batata frita

MARCELO PAIVA
COLUNISTA DA FOLHA

Outro dia, rolou uma festa saudosista. Dessas em que brasileiros se juntam para homenagear nosso país e suas grandes canções. Dois violões, um pandeiro e um coral afinado e embriagado atravessaram a madrugada; era eu no pandeiro e, modéstia à parte, não me saí mal.
Lá fomos nós, dos clichês: "A mão que toca o violão, ao: "I don't want to stay here, I want to go back to Bahia. Depois, caçamos Noel, Lupicínio, sambas-enredos, bossa-nova, Zé Ketti, Chico, Caetano, Gil, Tim Maia, Jorge Ben Jor... Você conhece aquelas músicas de acampamento, não?
Finalmente, alguém perguntou se não havia nada dos anos 80 ou 90. Foi difícil. Encontramos alguma coisa em Lobão e Marina. Descobrimos que não se fazem mais músicas de acampamento no Brasil (vamos tocar o quê, Sepultura?!). Talvez, por isso, não se acampa mais no Brasil. É o caso de começarmos uma campanha?

No livro "Kiss, Bow, or Shake Hands, três especialistas dão receitas de como fazer negócios em seis países. Um deles, o Brasil. Segundo o livro, nós, brasileiros, não nos consideramos hispânicos (não parece óbvio?) e ficamos ressentidos quando falam conosco em espanhol. Você fica? Eu não. O livro diz ainda que brasileiros se comunicam muito próximos um do outro. Você se comunica assim? Eu não. Diz que somente jovens usam jeans. Diz que é preciso evitar dar para brasileiros presentes da cor preta e roxa -cores de luto- e que se deve evitar dar facas, "que simbolizam cortar um relacionamento, e lenços, "que denotam melancolia. Por que um homem de negócios daria uma faca de presente?!
Diz ainda que as saudações no Brasil costumam ser longas, que ficamos muito tempo apertando as mãos, que não se discute negócios durante a comida. Diz ainda que se deve chegar quinze minutos atrasados nas festas (só quinze?), que são dadas em clubes, não em casas.
Então, vou falar um pouco dos "States". As festas costumam ter hora para começar e acabar; e na hora de acabar, acertada antecipadamente, vão todos de fato embora. Muitas palestras são dadas com as pessoas, inclusive os palestrantes, comendo. A maioria dos americanos acha que no Brasil se fala espanhol e nas escolas americanas só se ensina geografia durante um semestre nos treze anos escolar. E ninguém leva violão para acampamentos, mas repelentes e armas. Eu, hein!?...

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