São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Transmissão ao vivo dá frescor ao enlatado

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A temperatura sobe na reta final de ``A Próxima Vítima". As últimas semanas da bem-sucedida novela das oito prometem muito suspense. Os personagens da trama policial de Sílvio de Abreu, dirigida por Jorge Fernando, acabam de viver mais um assassinato.
Sem evidências concretas de quem é (ou são) o(s) criminoso(s), passaremos os próximos capítulos especulando. E para não correr o risco do costumeiro vazamento de informações sobre o desfecho da história -especialmente sobre a identidade do assassino- autor e diretor prometem transmitir o último capítulo ao vivo. O anúncio da novidade aumenta a expectativa.
Muito do discurso acadêmico sobre ficção televisiva parte do princípio de que, ao falar televisão e seriado, fala-se enlatado. A expressão se refere a produto em conserva, distante de qualquer sabor de improvisação, ou de uma relação mais direta com o público.
A novela brasileira foi se consolidando enquanto conserva de curta duração. Aqui a defasagem pequena entre o que é escrito, gravado e exibido, certamente garante um certo frescor que fascina o público. Novela é torcida.
Janete Clair, a autora mor, reclamava da divulgação prévia na imprensa dos rumos de suas histórias. Mas há cerca de 20 anos, os acontecimentos dos próximos capítulos são publicados com antecedência. E nem por isso as novelas perderam audiência. Ao contrário, se criou toda uma indústria de especulação em torno delas, que alimenta a torcida.
Para manter o suspense ao menos sobre o desdobramento final da história, autores acostumaram-se a gravar dois finais possíveis. Só na hora soubemos que Porcina optaria por ficar em Asa Branca com o coronel Sinhozinho Malta, em vez de fugir com Roque, em ``Roque Santeiro".
Além de tratar com sensibilidade temas quentes e polêmicos como racismo e homossexualismo, dessa vez Sílvio de Abreu pretendeu levar o policial a sério. O telespectador deve estar sempre alerta para a possibilidade de novos assassinatos. A repetição usual na novela é nuançada pela torcida em torno de quem será a próxima vítima. Atenção, capítulos de sexta-feira parecem mais propícios à ocorrência de assassinatos.
O projeto exige maior segredo em torno do trabalho do autor. Daí a intenção de transmitir o final ao vivo. Os desafios envolvidos na empreitada são enormes. Não há ``know how" de transmissão direta de novela, como há de futebol. E a torcida aqui não é organizada, depende de uma sintonia muito fina entre profissionais e público.
Os problemas técnicos a serem solucionados são de integração eletrônica e da equipe. Na novela, há muita variação de cenários. Haverá edição ao vivo? Mesmo que a intensão seja a de transmitir ao vivo somente cenas referentes à revelação da identidade do assassino, a tarefa de edição não é fácil.
Muito mistério em torno do roteiro corre o risco de implicar pouca informação para os atores e resultar em personagens fracos e uma equipe pouco articulada. Por outro lado, embora de alto risco, a transmissão ao vivo implica improvisação de toda a equipe. A experiência pode trazer novo sabor e certo frescor ao enlatado.

Texto Anterior: Banda de Supla abre o show do Motorhead
Próximo Texto: Delírio move filmes da TV
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.