São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995 |
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Transmissão ao vivo dá frescor ao enlatado
ESTHER HAMBURGER
Sem evidências concretas de quem é (ou são) o(s) criminoso(s), passaremos os próximos capítulos especulando. E para não correr o risco do costumeiro vazamento de informações sobre o desfecho da história -especialmente sobre a identidade do assassino- autor e diretor prometem transmitir o último capítulo ao vivo. O anúncio da novidade aumenta a expectativa. Muito do discurso acadêmico sobre ficção televisiva parte do princípio de que, ao falar televisão e seriado, fala-se enlatado. A expressão se refere a produto em conserva, distante de qualquer sabor de improvisação, ou de uma relação mais direta com o público. A novela brasileira foi se consolidando enquanto conserva de curta duração. Aqui a defasagem pequena entre o que é escrito, gravado e exibido, certamente garante um certo frescor que fascina o público. Novela é torcida. Janete Clair, a autora mor, reclamava da divulgação prévia na imprensa dos rumos de suas histórias. Mas há cerca de 20 anos, os acontecimentos dos próximos capítulos são publicados com antecedência. E nem por isso as novelas perderam audiência. Ao contrário, se criou toda uma indústria de especulação em torno delas, que alimenta a torcida. Para manter o suspense ao menos sobre o desdobramento final da história, autores acostumaram-se a gravar dois finais possíveis. Só na hora soubemos que Porcina optaria por ficar em Asa Branca com o coronel Sinhozinho Malta, em vez de fugir com Roque, em ``Roque Santeiro". Além de tratar com sensibilidade temas quentes e polêmicos como racismo e homossexualismo, dessa vez Sílvio de Abreu pretendeu levar o policial a sério. O telespectador deve estar sempre alerta para a possibilidade de novos assassinatos. A repetição usual na novela é nuançada pela torcida em torno de quem será a próxima vítima. Atenção, capítulos de sexta-feira parecem mais propícios à ocorrência de assassinatos. O projeto exige maior segredo em torno do trabalho do autor. Daí a intenção de transmitir o final ao vivo. Os desafios envolvidos na empreitada são enormes. Não há ``know how" de transmissão direta de novela, como há de futebol. E a torcida aqui não é organizada, depende de uma sintonia muito fina entre profissionais e público. Os problemas técnicos a serem solucionados são de integração eletrônica e da equipe. Na novela, há muita variação de cenários. Haverá edição ao vivo? Mesmo que a intensão seja a de transmitir ao vivo somente cenas referentes à revelação da identidade do assassino, a tarefa de edição não é fácil. Muito mistério em torno do roteiro corre o risco de implicar pouca informação para os atores e resultar em personagens fracos e uma equipe pouco articulada. Por outro lado, embora de alto risco, a transmissão ao vivo implica improvisação de toda a equipe. A experiência pode trazer novo sabor e certo frescor ao enlatado. Texto Anterior: Banda de Supla abre o show do Motorhead Próximo Texto: Delírio move filmes da TV Índice |
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