São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Moedas podres

São lamentáveis os desencontros do governo quanto à existência ou não de deságio no uso de títulos da dívida externa nas privatizações. A confusão obscureceu a questão que deve preceder tal decisão: se é conveniente aceitar as chamadas ``moedas podres" na venda de estatais.
Sob certos aspectos, tal política é indesejável. Como grande parte das moedas podres são títulos de longo prazo, seu uso implica resgatar débitos cujo pagamento era menos urgente, e o custo, menor.
Diferentemente, receber em dinheiro permite ao governo decidir que títulos convém resgatar. Naturalmente, os de curto prazo têm prioridade -sobre eles o Tesouro paga mais de 3% de juros ao mês.
A aceitação pelo valor de face de títulos que no mercado estão com deságio, ademais, tira a transparência das privatizações. A cifra expressa nas moedas podres é menor do que o valor real recebido pela venda da estatal. O saldo do programa de desestatização torna-se, em certo sentido, fictício.
Pode também ocorrer alguma perda por parte do Tesouro, ainda que ela seja menor do que parece -se não for apenas aparente.
Em princípio, se o investidor tem, por exemplo, R$ 80 milhões para comprar uma empresa, pouco importa se sua oferta for R$ 80 milhões em dinheiro ou R$ 100 milhões em moedas podres, compradas com os mesmos R$ 80 milhões.
O Estado só sairá prejudicado se a empresa for vendida pelo preço mínimo avaliado em dinheiro e receber em títulos de menor valor.

Texto Anterior: De boné no Planalto
Próximo Texto: Péssimo exemplo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.