São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995
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Pobres de nós

HÉLIO SCHWARTSMAN

SÃO PAULO - Maluf, ao obrigar os paulistanos a usar o cinto de segurança e a não fumar em bares, está contribuindo para aumentar a longevidade -ainda que ilegalmente- dos cidadãos, o que é uma coisa de Primeiro Mundo.
Já a sua gestão frente à prefeitura paulistana não pode ser qualificada como uma coisa de Primeiro Mundo, embora ele deseje.
Ele se tornou puro marketing. Deu um novo significado à palavra ``hipócrita". Sendo tradicionalmente de direita -o que não é em absoluto um pecado, embora eu defenda a esquerda-, Maluf, hoje, abriu mão de qualquer ideário apenas para aparecer na mídia.
Pior, chega mesmo a abraçar idéias da esquerda, ainda que completamente deturpadas -como IR negativo-, apenas para ganhar alguns pontos junto à população e deixar o Suplicy na fossa.
Ao mesmo tempo em que, segundo os ecologistas, ele destrói o Ibirapuera ao inaugurar o complexo viário Ayrton Senna, Maluf inaugura, uma semana antes, o parque Burle Marx. Esse parque, que poderia ter sido aberto no primeiro dia da gestão de Maluf, é literalmente um parque de Primeiro Mundo.
Os seguranças, devidamente terceirizados, como manda o figurino neoliberal, ostentam em seu quepe um garboso ``Defense - Security Guard".
Não ousei dirigir-me em inglês ao cidadão porque seu biotipo brasileiríssimo e sua presumida faixa salarial me deram a certeza de que, apesar de sentir-me no Hide Park, estava mesmo é no Brasil, ou pior, na capital paulista conduzida pelo prefeito Paulo Maluf.
E tem mais. Enquanto o pobre Jatene tem de enfrentar os mais poderosos lobbies do Brasil para tentar manter o princípio -este sim de Primeiro Mundo- da universalidade do direito à saúde, em São Paulo, Maluf, com um olho em suas pesquisas, finge que oferece à população um plano de saúde gratuito que, na verdade, apenas exclui ainda mais os excluídos.
Com seu amor à propaganda e desamor à sociedade, Maluf transforma Hitler num brinquedo de criança, ainda que com consequências infinitamente menos danosas. Mas o que vale, ou deveria valer, são os princípios, ou não.

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