São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 1995
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L'Esquisse traz clima de `cinema noir'

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MONTREAL

Entre os poucos artistas da nova dança francesa que ainda não se apresentaram no Brasil estão Joille Bouvier e Régis Obadia, que fundaram o L'Esquisse em 1980.
Misto de cineastas e coreógrafos, os dois se projetaram com uma dança cujo vocabulário cênico se inspira na pintura e no cinema. No último fim de semana, o L'Esquisse estreou no Festival Internacional de Nouvelle Danse (FIND), em Montreal, Canadá.
``Fazemos uma dança bruta", diz Obadia, ressaltando seu desprendimento com relação a técnicas convencionais. ``Nossa dança é muito física, por vezes até violenta. A consciência do corpo mais a atuação dramática dos bailarinos são nossos principais elementos."
Os filmes produzidos por Bouvier-Obadia costumam fazer tanto sucesso quanto as coreografias da dupla. Desenvolvendo uma narrativa não-linear através da força das imagens, os dois têm na condição humana seu tema recorrente.
Em ``Welcome to Paradise", peça mostrada sábado no FIND, a dupla parte de uma temática comum: as múltiplas reações que envolvem um casal. Sob a ótica do L'Esquisse, este encontro é em clima de ``cinema noir". O cenário é branco e preto, a personagem feminina tem cabelos dourados.
O tratamento dado à trilha sonora (misto de Verdi, Arvo Pãrt, Maria Callas) e ao desdobramento cênico dá a impressão de que, em vez de um espetáculo de dança, está se assistindo a um filme.
``Também temos a referência da pintura de Francis Bacon", diz Obadia, lembrando que o significado de ``esquisse" (esboço) vem da artes plásticas e do cinema.
A peça mais recente da dupla, ``L'Effraction du Silence", também mostrada no FIND, fala da iminência da guerra. Contrariando a onda assexuada da ``nova dança", Bouvier e Obadia criam personagens definidos.
Em ``L'Effraction du Silence", cinco mulheres e quatro homens destilam suas emoções com angústia, com reminiscências aos filmes de Pasolini e Visconti.
A música é uma colagem que inclui Bach, Sex Pistols, Elvis Presley e trechos de discursos de Goebbels, Mussolini e Stálin.
Mais uma vez, a experiência cinematográfica de Bouvier-Obadia interfere nas cenas, cuja articulação remete aos travellings, closes, rupturas e ampliações de imagens dos filmes.

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