São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Ajuste no sistema bancário dos EUA causou falências

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

O sistema bancário dos Estados Unidos passou por um ajuste no final nos anos 80 até o início dos anos 90. O processo foi doloroso, e 1.505 bancos fecharam as portas.
Esses bancos falidos tinham, juntos, um patrimônio de US$ 260 bilhões, mas só representavam 8% do patrimônio do setor no período.
Relativamente pequeno nos EUA, no Brasil o valor -US$ 260 bilhões- seria grande. Equivale a aproximadamente metade do Produto Interno Bruto (PIB).
Quando a onda de falências ocorreu, o sistema de proteção de depósitos teve o seu primeiro grande teste.
Criada no início dos anos 30, a Federal Deposits Insurance Corporation (FDIC) garantia contas bancárias até o limite de US$ 100 mil. Ou seja, quem tinha US$ 150 mil em um banco falido recebeu US$ 100 mil quando a instituição fechou as portas.
O gasto da FDIC foi de US$ 40 bilhões com a onda de falências bancárias nos EUA. Havia dinheiro, mas os cofres ficaram quase vazios. Isso fez acender a luz amarela para o governo do país.
Em 91, temendo que os contribuintes norte-americanos tivessem que arcar com algum prejuízo, o Congresso dos EUA aprovou uma lei modificando o funcionamento da FDIC.
Basicamente, a lei de 91 -sancionada pelo então presidente George Bush- obrigava as agências reguladoras bancárias a agir com maior rapidez no caso de bancos em má situação financeira.
Os bancos nos EUA passaram a ser incentivados a ``acumular quantidades recordes de capital novo", segundo o economista George Kaufman, da Associação Americana de Bancos.
A decisão de 91, que reordenou o sistema bancário, foi simples. Denominada Sistema de Intervenção Estruturada Adiantada (Seir, em inglês), a norma deu grande ênfase à capitalização dos bancos.
Estabeleceu-se cinco zonas de capitalização: 1) bem capitalizado, 2) adequadamente capitalizado, 3) capitalizado inadequadamente, 4) muito descapitalizado e 5) criticamente descapitalizado.
Com essas novas regras, o governo dos EUA pôde começar a fazer uma pré-intervenção em bancos problemáticos.
Por exemplo, um banco considerado ``criticamente descapitalizado" começa a ter obrigações muito mais severas do que os outros no mercado: deve interromper captação de depósitos para investimentos, suspender o pagamento de dividendos e implantar um plano imediato de recapitalização.
Essa nova regra, em vigor desde 91, revitalizou o sistema bancário dos EUA. Mas, na opinião do economista George Kaufman, não garante uma segurança total.
A tendência é que a indústria bancária continue se ajustando e o número de bancos nos EUA diminua ainda mais. Mas sempre haverá uma distância grande entre o modo como casas bancárias são operadas pelos norte-americanos e pelo brasileiros.
O sistema bancário dos EUA é diferente do brasileiro por razões históricas. Lá sempre houve uma preocupação sobre o poder exagerado que grandes casas financeiras concentram.
``E que forma melhor de restringir o tamanho de um banco do que limitar o número de agências e variedade de produtos que a instituição oferece?", pergunta Kaufman.
Nos EUA, há restrições quanto ao número de agências e produtos que cada banco pode ter e oferecer. O resultado é um número muito grande de bancos. Mesmo grandes nomes como Citibank não são vistos no país inteiro.
No início dos anos 20, os EUA tinham cerca de 30 mil bancos comerciais em operação. O número despencou para 15 mil em 34. No final de 93, o total era de 11 mil.

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