São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995 |
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Arafat vem pedir auxílio do Brasil para palestinos
JOSÉ ARBEX JR.
O líder palestino será recebido no Brasil com todas as honrarias devidas a um chefe de Estado, incluindo um jantar que lhe será oferecido na terça-feira pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Arafat espera que a visita impulsione a conclusão de acordos de cooperação e atraia investimentos no nascente mercado palestino. O dia de Arafat no Brasil será intenso. Ele manterá encontros com os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal. Será também homenageado pelo governador do Distrito Federal, Christovam Buarque, com quem vai inaugurar o Monumento à Paz Mundial. O líder palestino participará também de um coquetel oferecido pela comunidade árabe brasileira. Arafat deixa o Brasil à noite, após o jantar com o presidente. Além do aspecto econômico, essa visita -a primeira que Arafat faz ao país- tem um grande significado político e simbólico, afirmou à Folha Musa Amer Odh, representante da delegação especial palestina no Brasil. "Esperamos que a visita realce as relações cordiais que o Brasil sempre manteve com a nossa comunidade e ajude a lançar uma ponte econômica, cultural e social com a Palestina", disse Odh. Hassan El Emleh, 57, presidente da Federação das Entidades Árabe-Palestinas Brasileiras, destaca o caráter geopolítico da visita. "O Brasil é a principal potência da América Latina, e tende cada vez mais a ocupar o lugar que lhe é devido. Além disso, o país sempre desempenhou um papel importante na resolução dos grandes conflitos internacionais. Por tudo isso, a vinda de Arafat é da maior importância", disse El Emleh. O Brasil, de sua parte, também mostra disposição em revitalizar seus laços econômicos e culturais com os países do Oriente Médio. No começo de setembro, o chanceler Luiz Felipe Lampreia manteve encontros com o chanceler israelense, Shimon Peres, e com Arafat. Lampreia é defensor de uma política externa que acentue o caráter do Brasil como "global trader" (comerciante global), capaz de se projetar no mundo tanto como liderança regional quanto como parceiro internacional. A nova Autoridade Palestina -consagrada pela assinatura dos acordos de 28 de setembro-, precisa, desesperadamente, de recursos. Ela está assentada, territorialmente, sobre a Faixa de Gaza (363 km2 e 658 mil habitantes) e Cisjordânia (5.880 km2 e 973 mil habitantes), onde a maioria da população vive em condições miseráveis, muitas vezes abarrotando acampamentos sem qualquer infra-estrutura urbana ou sanitária. Parte da miséria se explica pelo fato de que durante os 28 anos em que manteve a ocupação dos territórios de Cisjordânia e Gaza, Israel não fez praticamente nenhum investimento produtivo na região. O próprio Peres -um dos arquitetos do atual processo de paz na região-, reconhece que a situação de carência da maioria dos palestinos é, hoje, um dos principais obstáculos aos acordos de 1993. Para ele, "a miséria é o pai do fundamentalismo islâmico. Isso, mais a presença de colonos judeus que não aceitam se retirar dos territórios ocupados, transformam Cisjordânia e Gaza num barril de pólvora muito propenso a explodir a qualquer momento. É fácil entender, nesse quadro, os resultados de uma pesquisa recente do Centro de Investigação e Estudos da Palestina, segundo a qual 60% dos palestinos não crêem em paz duradoura. A revitalização da economia é a chave para conferir a Arafat a legitimidade diante de seus críticos. É também fundamental para inibir as atividades do grupo fundamentalista Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) e de outras organizações extremistas, para quem o acordo foi uma "traição". Finalmente, é a condição óbvia para que Arafat consolide aquele que é o seu objetivo estratégico: a criação de um Estado nacional palestino. Não existe Estado soberano sem uma economia minimamente significativa. Não por acaso, ao visitar a França e o Reino Unido no final de setembro, Arafat fez um dramático apelo aos países da União Européia por investimentos na Palestina. Sua visita à América Latina também tem esse sentido. Apesar das dificuldades, El Emleh mostra-se otimista. Ele lembra que, logo após o acordo de paz entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em setembro de 93, áreas de Gaza e da Cisjordânia tiveram seu valor multiplicado por dez. "Muitos palestinos querem voltar à sua terra e estão dispostos a investir. Agora é o momento certo", afirma El Emleh. Há cerca de 40 mil palestinos e descendentes no Brasil (principalmente nos Estados do sul), e cerca de 600 mil na América Latina. Em sua maioria, são empresários e comerciantes e de fé sunita (o principal ramo do islamismo). Eles representam um potencial econômico precioso para a pobre entidade nacional palestina. Texto Anterior: Ricos driblam embargo comprando na Jordânia Próximo Texto: Palestino enfrenta opositores Índice |
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