São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Simpsonmania?

O caso O. J. Simpson ocupou por cerca de um ano um espaço significativo nos meios de comunicação dos Estados Unidos. Mas o final do caso, com a absolvição do réu, detonou na opinião pública americana uma febre ainda mais intensa. No centro do debate, das capas de revistas às grandes redes de televisão, surge com vigor indisfarçável o vírus do racismo.
As reportagens mostram escritórios onde o confronto entre brancos e negros, ou melhor, entre brancos e ``afro-americanos", tem tornado subitamente insuportável uma convivência que estava aparentemente consolidada.
Na entrada de uma grande rede de televisão, que anunciava a primeira entrevista com Simpson depois do julgamento, manifestantes acotovelavam-se. Uma seita convoca para a semana que vem uma marcha que pretende levar a Washington 1 milhão de homens negros. Outras vertentes políticas afro-americanas acusam o movimento de machista, numa acumulação de conflitos politicamente incorretos que turva com rapidez notável uma sociedade que levou às últimas consequências a filosofia de defesa dos direitos civis. Como que culminando esse processo, o presidente Bill Clinton promete para breve uma manifestação ao país abordando o tema do racismo.
Há uma inércia no caso Simpson que resulta do próprio vigor com que a mídia cobriu o assunto por tanto tempo. Parece estar em jogo um prolongamento da pauta, como se a indústria cultural fosse movida por um horror ao vácuo que o fim do julgamento ameaçava provocar.
Entretanto, se os fenômenos de mídia, em todo o mundo, às vezes parecem ganhar uma dinâmica irresistível, é também inegável que qualquer assunto ou ``pauta" prospera apenas onde encontra terreno fértil na opinião pública. Dessa perspectiva, a virulência do racismo nos Estados Unidos, no Primeiro Mundo, parece alinhar-se a fenômenos análogos que irrompem em outras latitudes, inclusive no Terceiro Mundo, onde desde a queda do Muro de Berlim agravam-se os conflitos de natureza étnica, racial ou simplesmente regional.
Há sem dúvida em toda essa onda uma espécie de Simpsonmania. Mas há também um sentido mais doentio e lamentável na irrupção de conflitos que apenas na superfície pareciam superados.

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