São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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salto cinematográfico

HELOISA HELVECIA

Tem mais amor ao trabalho que ao sucesso. Não por desprendimento, diz. É medo de altura. "Gostar muito do sucesso é perigoso, vira dependência. Quero me preparar para tudo. A profissão é ingrata, você envelhece", diz a atriz, 31 anos.
Busca prazer fora de telinha, telona, palco. "Sou feliz também em cuidar da casa, encontrar meus amigos, ler, escrever..."
As palavras andam mexendo com ela que, nessa fase de tantos vôos, relaxou a análise lacaniana. "Tenho gostado cada vez menos de falar gíria; honestamente, quero usar palavras com os sentidos precisos." Além de poupar "caras e "bacanas, quer escrever "sem pretensão, como exercício do pensamento".
Foi um exercício filmar "O Monge e a Filha do Carrasco" em outro idioma. "Ótimo, porque o inglês sempre me ensina alguma coisa."
No caso, clareza. Patrícia se considera "delicada demais", fala dando voltas. Seus desejos quase nunca são ordens. Exercitou a objetividade ao representar em inglês. "Não me senti envergonhada ou ridícula, até porque as falas eram dramáticas, teatrais, combinou. Também aprendeu com as "forças primitivas" da sua ciumenta, raivosa e descontrolada personagem, Âmula.

Sutilezas, deusa
Oposto de Âmula, Teresa de "O Quatrilho" levou Pillar às nuvens. "Ela é romântica, cheia de sonhos", diz, olho no alto. "Fazê-la foi lidar com sutilezas." Teresa, como a atriz, tem "vontade de viver um grande amor". Patrícia está só, separada há um ano do músico Zé Renato.
Apaixonou-se pela história e pelo filme. Amou da pesquisa feita nas colônias de imigrantes à convivência com a "deusa Glória Pires. "É uma atriz deslumbrante, amiga generosa. Sempre fui fã dela. É gente fina, elegante e sincera".
Amou também trabalhar com Fábio Barreto, "um cara que escuta".
Não só escuta, mas segue a escalada da moça. "É uma curva de ascensão fantástica. É impressionante a melhoria no trabalho dela", depõe.
Patrícia recusou o remake de "Irmãos Coragem", e os três personagens que faria na novela, para entrar na quadrilha de Barreto. Ficou dois meses no Sul.

Curta duração
Pillar busca trabalhos assim, mais curtos, para poder se dedicar mais. Dedicação, às vezes, vira cacoete, diz o cineasta mineiro Helvecio Ratton. "Patrícia é talhada para o cinema, porque é muita fotogênica e pensa", afirma. "Mas ela fica insegura em relação aos planos que grava. É uma ansiedade de repetir que nem sempre produz um resultado melhor", ensina o diretor de "Menino Maluquinho". Mas ressalva: "Durante o filme, isso evoluiu até ela se sentir segura e confortável."
Para ficar segura, Patrícia não "incorpora" nem é "tomada" por ninguém, contrariando o mito do métier. "Meu jeito é assim: o principal é o texto, o lado racional de compreensão da história. Preciso entender a função do personagem.

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