São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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Anistiados ganham menos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O drama de um grupo de funcionários públicos anistiados e readmitidos no Ministério da Agricultura não terminou com a volta ao trabalho. Depois de anos de serviço público, eles retornaram ganhando salários de iniciantes.
``Ganho R$ 600, a mesma coisa que ex-auxiliares meus. Tive que tirar meu filho da escola particular", disse o engenheiro agrônomo Hernando Noronha, 50, há 32 anos funcionário público.
Noronha tem mestrado em economia rural na Universidade Federal de Viçosa (MG). Quando foi demitido, trabalhava na Embrater (Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural), extinta pelo governo Collor.
``Faço serviços fora do expediente para sobreviver", disse Noronha. Segundo ele, se a Embrater não tivesse sido extinta, o seu salário seria de cerca de R$ 2.500.
Ilto Morandini, 45, ex-engenheiro da Embrater, ganha o mesmo que Noronha e executa tarefas importantes. Há um mês, foi em missão oficial aos EUA para inspecionar plantações de uma empresa exportadora.
``Tenho 23 anos de profissão, trabalho como engenheiro e ganho salário de técnico iniciante", disse Morandini.
A assistente administrativa Consuelo Souto, 51, foi demitida em novembro de 90. ``Minha filha ficou doente e tive que vender um apartamento, meu carro e minha sogra me sutentou", afirmou.
Consuelo disse que voltou ao ministério ganhando R$ 360 e montou uma pequena loja na garagem de sua casa em Valparaíso (GO), a 45 km de Brasília. ``Nessa idade não temos mais vaga no mercado", afirmou.
Mesmo passando dificuldades, os readmitidos com maiores salários organizam doações de cestas básicas para quem ganha menos.
É o caso de João Costa, 40, ex-gráfico da Embrater e hoje contínuo do ministério. Costa tem 20 anos de serviço público, ganha R$ 260 e tem cinco filhos.
``Fui demitido em 10 de julho e não consegui mais emprego fixo. Fazia bicos e o que aparecia na frente. Isso refletiu da pior maneira possível na minha família", disse Costa.

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