São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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Trabalha, trabalha nego

JUCA KFOURI

Não bastasse a Lei do Passe, o jogador de futebol brasileiro convive cada vez mais com um calendário massacrante. Não há quem não se queixe, dos artistas da bola aos preparadores físicos. Só mesmo os cartolas e alguns jornalistas da idade da pedra é que acham que está tudo bem.
Há os que argumentam com o tempo do onça, como lhes convém. É um tal de lembrar o grande Santos que jogava, jogava e ganhava, embora, com frequência, perdesse partidas, até por goleada, por pura estafa -é só ir conferir na história- e, mais importante, aqueles tempos fossem de um futebol muito mais cadenciado, com a técnica prevalecendo sobre o preparo físico.
Mas jornalista conhece tudo e nem quer saber, cientificamente, o que acontece com o atleta submetido à maratona que se estabeleceu por aqui.
O professor Moraci Sant'Anna, por exemplo, vitorioso em todos os sentidos e preparador do São Paulo bicampeão mundial, quando o tricolor jogou cerca de cem jogos por ano, conta as mágicas que teve de inventar para que a coisa não desandasse. Mas excelentes jogadores como Raí e Palhinha, para ficar só em dois exemplos, pagam até hoje o preço daquele esforço desumano.
O programa do Corinthians nesta semana também é digno de nota. Jogou ontem à noite com o Atlético, irá jogar em Fortaleza na quarta-feira e depois viaja ao outro extremo do país para enfrentar o Criciúma. Não há quem aguente. Só mesmo quem vive nos ambientes da cartolagem ou das bobagens que escreve nas redações. Esses não cansam nem a cabeça, porque não a utilizam para pensar ou, pelo menos, perguntar a quem entende.
De resto, é isso mesmo. Ou os jogadores se unem para enfrentar a barbárie, ou continuarão submissos aos senhores e seus porta-vozes.

A conversa gravada entre o repórter Alexandre Reis e o ex-árbitro Wilson Roberto Catani não irá mais ao ar nesta segunda-feira como a rádio CMN, de Ribeirão Preto, anunciara. Os interesses do Botafogo local falaram mais alto e tanto o repórter como o diretor de esportes e narrador da rádio, Luiz Carlos Briza, se demitiram em protesto. É o preço da dignidade.

Não vem não. O pênalti que valeu a vitória do Flamengo contra o Criciúma foi claríssimo.

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